São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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Poupar e comprar à vista é única opção a crédito caro

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O temor do desemprego, o risco da inadimplência e a altura das taxas de juros não parecem ter inibido a procura pelo crediário.
A explicação não está nos juros, que, de fato, vêm recuando aos poucos desde julho de 95 -embora ainda mereçam entrar no Guiness pela diferença recorde sobre a inflação próxima de zero.
São os prazos mais esticados, diz o economista José Dutra Vieira Sobrinho, que podem explicar por que o consumidor continua a buscar o crediário mesmo com juros acima de 100% ao ano.
Quanto mais se parcela, menor fica sendo o valor da prestação. O juro pode até crescer, mas o consumidor se entusiasma quando anota o valor da prestação e percebe que ele cabe no orçamento.
Se entra em vários, criam-se as condições para a inadimplência, como alertaram neste caderno, ainda no final de 94, o economista Juarez Rizzieri, da Fipe, e Mariângela Sarrubo, do Procon-SP.
Esse comportamento é arriscado porque pequenos compromissos, somados, ganham dimensão perigosa no orçamento doméstico, diziam, num conselho ainda válido.
Juro não é levado em conta
O tamanho do juro é o que menos importa. A maioria da população nem sequer tem condições de calculá-lo e não é toda loja que faz questão de informá-lo bem.
E muitas informam taxa menor do que a efetiva, critica Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
Se o consumidor fizer todas as contas, vai constatar que, ao financiar um fogão ou uma geladeira, paga juros de 125,22% ao ano (7% ao mês) ou mais. A Fipe já admite inflação de 10% para 96, o que daria juro real de 104,7%.
Para não pagar tanto pelo produto desejado, a única saída é adiar a compra e ir poupando mês a mês para adquirir à vista mais à frente, aconselham Dutra e Oliveira.
Com disciplina, o consumidor consegue comprar o produto e inverter a equação dos juros. Em vez de perder, ganhar com eles.
Suponha um produto custando R$ 500 à vista, financiado em seis vezes (a primeira parcela paga no ato), a juros de 7% ao mês, incluído o IOF. A prestação mensal seria de R$ 98,04, somando R$ 588,24, ou 17,65% acima do preço à vista.
Mesmo com um juro de 1% ao mês, poupando R$ 98,04 por mês você terá acumulado R$ 505,10 em cinco meses. Pode comprar o produto à vista, talvez até com desconto, ficar com troco e economizar R$ 88,24, quase o valor de uma prestação por aquele crediário.
Oliveira lembra que, com a abertura comercial e a queda das alíquotas de importação, bens de consumo duráveis têm ficado com preços praticamente inalterados.

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