São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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Justo o que se esperava

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Quando eu tinha seis anos, ganhei um revólver de meu pai. Fiquei orgulhoso: eu era o único garoto da rua com um revólver. Uma semana depois, eu era o único garoto da rua..."
Assim como o soneto de Camões sobre Jacó e Raquel ("Sete anos de pastor Jacó servia..."), que aprendi no 1.º colegial, essa piada grudou em minha memória feito craca em casco de navio.
Chico Anysio a contou em um "Show do Dia 7", na poderosa Record dos anos 60, e, por algum motivo -nenhuma semelhança biográfica, por certo- jamais a esqueci.
Dúzias de anos depois, Chico repetiu a piada na abertura de seu novo programa da Globo, "Chico Total". Que não seria tão novo assim, já soubera por este caderno; só não imaginei que Chico fosse voltar tanto no tempo.
Retornando formatos anteriores à "Escolinha do Professor Raimundo", "Chico Total" é uma colagem de esquetes. Alguns são encenações de piadas curtas, feitas pelo elenco de apoio, do tipo encontradiço em "A Praça É Nossa". Os demais têm a participação dos personagens de Chico, um tanto deslocados no tempo. A exceção é o cada vez mais atual Justo Veríssimo.
Justo Veríssimo é um deputado corrupto assumido. Odeia pobres a tal ponto que se recusa a ser assaltado por um ladrão sem colarinho branco: "Só converso com quem domina meus assuntos: mamatas, negociatas, mordomias, imunidades, roubalheira descarada..."
Justo representa apenas o joio da classe política, mas a imagem do trigal anda tão ruim que certas máximas do deputado são repetidas por aí como verdades universais. Uma delas, dita ao ladrão: "Neguinho quer ser prefeito para quê? Para arrumar a cidade? Não, é para 'se arrumar!'".
Em seguida, Justo atira na chamada administração indireta, mas também atinge este infeliz mutuário: "Pobre é tão otário que compra casa pela Caixa Econômica: a casa custa 40, e, quando ele já pagou 220, ainda deve 390". Como diz o Ivan, de "Explode Coração", então tá, então.

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