São Paulo, segunda-feira, 15 de abril de 1996
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Pirataria sofisticada ameaça marcas

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

O mercado brasileiro começou a ser inundado por falsificações aperfeiçoadas de produtos fabricados no país. A qualidade das cópias tem se mostrado superior à da pirataria do passado.
Investigações realizadas pelas empresas lesadas apontaram a origem destes produtos: a China e, em menor escala, outros países asiáticos, como a Coréia.
Como em todo o comércio informal, as empresas têm dificuldades de determinar com precisão o tamanho do prejuízo causados por falsificações. Os produtos fraudulentos, por sinal, não frequentam apenas os pontos de vendas informais, como os camelôs, mas também as lojas legalmente estabelecidas, lamentam os fabricantes.
A líder do mercado brasileiro de fumo, Souza Cruz, por exemplo, estima entre US$ 800 milhões e US$ 1 bilhão o prejuízo anual com as falsificações de sua principal marca internacional, o Hollywood. As cifras, segundo o diretor comercial Milton Cabral, incluem o contrabando.
A Bausch & Lomb, que enfrenta o problema com seu produto mais famoso, os óculos de sol Ray-Ban, não divulga estimativa de prejuízo com as falsificações no Brasil. Mundialmente, a empresa perde cerca de US$ 50 milhões por ano, informa o diretor de vendas e marketing, João Pedro Sena.
Imagem borrada
A fábrica de canetas Bic, as descartáveis mais populares do mundo, encara o problema mais como um prejuízo à marca do que como uma perda financeira, comenta o assessor da diretoria Jean Paulo Robin.
É que os clientes consideram a caneta um produto de boa qualidade e, quando se deparam com cópias falsificadas que borram e vazam, associam o problema à caneta original. Robin diz que a empresa tem como norma não divulgar valores.
Outra empresa que enfrenta problema de falsificação de seus produtos é a Philips, fraudada principalmente no ramo de lâmpadas.
O problema destas falsificações é que elas não são fáceis de serem detectadas, pois os falsários se esmeram para deixar os clones muito parecidos com as lâmpadas originais.
E, como os custos de produção são mais baixos na China, as lâmpadas falsas chegam ao país em condições de competir com os produtos legalizados em situação de grande vantagem.
Rota de entrada
Para chegar aos responsáveis pelo contrabando -ou em alguns casos até importação legal- as empresas mantêm setores especializados para investigar a origem dessas negociações. A contra-espionagem industrial é pesada, mas ninguém gosta muito de falar sobre o assunto.
A Souza Cruz, no entanto, revela que foi uma equipe sua que conseguiu mapear o caminho do Hollywood chinês. Ele é importado legalmente pelo Paraguai e, de lá, contrabandeado para o Brasil.
A Bausch & Lomb, que também tem uma equipe exclusiva para realizar este trabalho, confirmou este caminho -da Ásia para o Paraguai-, mas investigou que os produtos têm em Manaus, capital do Amazonas, outra via de entrada no Brasil.

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