São Paulo, segunda-feira, 15 de abril de 1996
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O tiozinho e a japonesa são puro rock

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Duas histórias que parecem não ter nada a ver com rock.
História um:
Em 1922, na Áustria, um pentelho de 14 anos chamado Victor Weisskopf, louco por física, tinha uma dúvida brava: se a Teoria da Relatividade de Einstein afirma que nenhuma partícula pode atingir a velocidade da luz, como ficam os fótons, as partículas que compõem a luz?
Se são partículas, não poderiam chegar à velocidade da luz. Mas são também luz, então têm que ter a velocidade dela!
Muito folgado, Victor escreveu direto para o rei da física: o semideus Max Planck, Nobel de 1918, pai da teoria quântica.
Surpresa: Planck respondeu pessoalmente, dizendo que a luz não era partícula, mas onda. E que as leis sobre partículas não se aplicam a ela.
Legal, não? Só que está errado.
Planck, um dos dez maiores cientistas de todos os tempos, falou uma asneira sem tamanho! A explicação é mais complicada e não quero entediar você detalhando-a.
Victor Weisskopf, hoje um tiozinho de 88 anos, professor-emérito do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, conta essas e outras em sua autobiografia, "The Joy of Insight". Fala também de lindas dinamarquesas, orgias em Berlim, bebedeiras históricas, música clássica.
O que nos leva para a história número dois.
Michiko Kakutani é uma sisuda crítica de cultura do jornal mais sério da paróquia, "The New York Times"'.
Mas há duas semanas ela deixou a sisudez de lado, mergulhou no pop e esculhambou o filme "Despedida em Las Vegas", que acusa de "niilista de butique".
Para isso, recorreu a um arsenal pop/erudito de arrebentar. Tirou um sarro de John Travolta, falou de um culto black metal sanguinário na Noruega (noticiado pela revista pop "Spin"), alugou as letras sombrias do Nine Inch Nails, lembrou versos perturbadores de Baudelaire, deu uma metralhada na novíssima literatura sado-escatológica americana (Dennis Cooper, Susanna Moore) etc. etc. etc.
Essa Michiko foi fundo.
Moleques muito curiosos, death metal norueguês, bobagens que até gênios dizem, Nine Inch Nails no mesmo saco que Baudelaire...
O rock and roll é isso. Melhor não tentar entender.

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