São Paulo, segunda-feira, 15 de abril de 1996
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Atriz inocenta 'Mulheres Diabólicas'

CECÍLIA SAYAD
DA COORDENAÇÃO DE ARTIGOS E EVENTOS

Para a atriz francesa Isabelle Huppert, sua personagem no filme "Mulheres Diabólicas" (em cartaz no Espaço Unibanco) é vítima de um sistema.
O filme rendeu-lhe o prêmio de melhor atriz no festival de Veneza e o César, prêmio mais importante do cinema francês.
Isabelle Huppert, 41, está também no filme "A Separação", de Christian Vincent, que estréia no próximo dia 19 (sexta).
Atua também na peça "Mary Stuart", de Schiller, em Londres, de onde falou à Folha por telefone.
Em "Mulheres Diabólicas", seu quarto filme com o diretor Claude Chabrol, a atriz interpreta Jeanne, uma funcionária do correio que estabelece uma perigosa amizade com uma empregada doméstica, Sophie (Sandrine Bonnaire).
Separadas, Jeanne e Sophie são apenas duas mulheres socialmente desfavorecidas, mas juntas, são capazes de crimes hediondos.
"Quando alguém é pobre, é necessariamente vítima", diz. "Há fatores como capacidade individual que podem permitir que desfavorecidos vençam, mas Jeanne e Sophie têm poucas perspectivas."
Para tornar sua personagem mais humana, a atriz imaginou que o crime cometido por Jeanne era como uma brincadeira que acabava mal. Segundo Huppert, "não há motivações concretas para que Jeanne cometa o crime, elas são de ordem histórica".
A atriz diz que sua personagem e a de Bonnaire não têm consciência da gravidade de seus atos. "Há uma vaga angústia, mas não sentimento de culpa."
Huppert contou que os roteiristas do filme, Chabrol e Caroline Eliacheff, inspiraram-se num caso estudado por Lacan para elaborar sua personagem.
"O caso se refere a uma empregada doméstica que havia trabalhado num correio e que, nos anos 30, tentou assassinar uma atriz". Huppert não nega o caráter pessimista do filme. "Mesmo a gentileza com que a família Lelièvre trata as personagens é cruel, porque é mostrada como condescendência. Há um desprezo nessa gentileza."
Isabelle Huppert também está no último filme de Vittorio e Paolo Tavianni, "As Afinidades Eletivas", adaptação do romance de mesmo nome de Johann Wolfgang von Goethe, que será apresentado fora de competição no festival de Cannes, em maio.
No filme, Huppert faz o papel de Charlotte. Ela procurou ser fiel ao personagem do livro. "Mas quando adaptamos um personagem para o cinema, tentamos dar-lhe mais vida, e acrescentamos a ele novas características."

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