São Paulo, terça-feira, 16 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O Banespa como solução

CELSO PINTO

Quanto mais difícil fica uma saída para o Banespa, mais força ganham idéias que circulam próximas ao governador Mário Covas de que ele deveria concentrar-se em viabilizar o banco paulista que ainda tem solução, a Nossa Caixa.
A Nossa Caixa já fez um grande esforço para ajustar-se, mas padece de um mal idêntico ao que matou o Banespa: seu maior devedor é o governo do Estado de São Paulo, e a dívida vem crescendo de forma assustadora. Se aproveitar o impasse criado pelo Senado para desistir de vez do Banespa, talvez Covas consiga clarear o futuro da Nossa Caixa.
Em dezembro de 1994, pouco antes de Covas assumir, a dívida paulista com a Nossa Caixa era de R$ 2,4 bilhões e foi refinanciada por 20 anos. Desde então, apesar de ter pago todas as mensalidades, a dívida deu um salto e já está em R$ 4 bilhões, segundo o presidente da Nossa Caixa, Geraldo Gardenalli. A razão para o aumento é a altíssima taxa de juro cobrada. No caso da Nossa Caixa, o custo para o Estado de São Paulo é ainda maior do que o do Banespa. Nos dois casos, a taxa básica é o custo do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) com que o banco se financia no mercado, mais um prêmio ("spread"). O "spread" do Banespa é de 0,5% ao mês. No caso da Nossa Caixa, ele chegou a ser de 1,8% ao mês, em janeiro do ano passado, e hoje é de 1% ao mês.
Essa taxa altíssima cria uma situação perigosa. No papel, a dívida paulista gera lucros extraordinários e engorda os balanços. Na vida real, os juros vão sendo capitalizados, a dívida cresce exponencialmente e, com isso, fica cada vez mais difícil de ser paga. Foi exatamente isso o que aconteceu com o Banespa. A Nossa Caixa tem uma proposta de solução para evitar a repetição do Banespa.
Se o governo paulista conseguir tomar no Exterior recursos para pagar metade do que deve, a Nossa Caixa se disporia a refinanciar a outra metade nas mesmas condições obtidas no mercado internacional. A dívida se tornaria pagável, com juros razoáveis e prazo mais longo, e a Nossa Caixa daria credibilidade a seus ativos. A proposta da Nossa Caixa não tem nada a ver com a questão do Banespa, mas círculos próximos ao governador acham que os dois casos poderiam combinar-se. As chances de o Banespa ter um desfecho positivo são cada vez mais remotas, e Covas tem dado claras indicações de impaciência com o processo. Além da resistência política do Senado e da necessidade de renegociar os R$ 2 bilhões (até agora) adicionais acumulados desde dezembro, existem outras complicações.
Os dois ativos oferecidos por São Paulo para cobrir metade da dívida do Banespa enfrentam problemas. Como o acordo com o Banespa foi remetido pelo presidente do Senado, José Sarney, para exame pelo Tribunal de Contas da União, pode ficar mais difícil a aceitação dos aeroportos, em função da discussão jurídica sobre a propriedade.
O outro grande ativo oferecido é a Fepasa. A avaliação feita pelo governo paulista é de que a Fepasa vale, no mínimo, R$ 8 bilhões, baseada no patrimônio da empresa. O BNDES, contudo, discorda inteiramente.
A Fepasa vai se incorporar ao programa de privatização da Rede Ferroviária Federal. Portanto tem que ser avaliada por seu valor de venda, que é sua capacidade de geração de caixa, não seu patrimônio. O BNDES não pode aceitar adiantar R$ 8 bilhões ao governo paulista pela Fepasa para depois vender a empresa por uma fração desse valor. Covas, contudo, pelo que se sabe, está furioso com a resistência do BNDES aos seus números.
Se Covas desistir do Banespa e entregar o banco ao BC (para liquidá-lo ou privatizá-lo), transferirá também boa parte dos problemas. Além disso, hoje o Banespa gira todo o dinheiro do funcionalismo do Estado. Se esse dinheiro for para a Nossa Caixa, ela dará um salto extraordinário.
Hoje, Covas tem dois problemas. Sem o Banespa, poderá resolver os dois.

Texto Anterior: Governo quer votar contrato temporário
Próximo Texto: Congresso dá R$ 40,3 mi a privilégio parlamentar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.