São Paulo, terça-feira, 16 de abril de 1996
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GOVERNO X GOVERNO

Já se disse que o governo não precisa de oposição. Descontada a ironia, há uma verdade nessa tirada.
Diante do crescimento desmesurado do Estado, não só, mas em especial no Brasil, tornou-se imperativo distinguir entre governo e burocracia. É da corporação, inúmeras vezes, que brotam as mais constrangedoras iniciativas, bloqueando ou desvirtuando as ações de governo.
Os funcionários do Banco Central declararam-se em estado de greve. O motivo é o de sempre: pretendia-se fazer passar um reajuste salarial especial. Vetado pelo Planalto, a "categoria" colocou-se em pé de guerra.
Não se trata de colocar em dúvida a importância de valorizar as carreiras técnicas do funcionalismo, em especial as do Banco Central, órgão que aliás fiscaliza o sistema financeiro, no qual quadros de competência comparável ganham muito mais. Nem se poderia negar, em tese, a existência de defasagens salariais.
Causa espécie, entretanto, a completa falta de tato político com que a "categoria" exige melhoria salarial, num momento em que o sacrifício é generalizado (inclusive entre os bancários do setor privado).
Mas o radicalismo da corporação tem efeitos mais graves até que a própria questão salarial. Colocar seus próprios interesses com tamanha virulência, num momento em que já existe desconforto sobre a estabilidade do sistema financeiro, significa perturbar o ambiente mesmo pelo qual essa corporação deveria, acima de tudo, zelar. Os mercados futuros, por exemplo, antecipando uma hipotética queda do presidente do BC, já foram palco de jogadas especulativas. Ou seja, o corporativismo tem inegáveis efeitos sobre a própria condução da política econômica.
E os ministros do Conselho Monetário Nacional e outras autoridades, para variar, deram o costumeiro espetáculo de descoordenação e falta de habilidade na comunicação.
Quem precisa de oposição?

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