São Paulo, terça-feira, 16 de abril de 1996
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Fisiologia intrapartidária

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Não é segredo que o governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), deseja ter o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, como candidato tucano à prefeitura da capital do Estado.
Covas vê em Motta o candidato mais combativo, com peso político e capaz de unir o partido. Mas há outras razões menos conhecidas. São motivações que talvez nem o futuro candidato tenha noção completa.
Assessores do Palácio dos Bandeirantes tramam algo maquiavélico. Sérgio Motta ficaria refém de Covas. A cada pedra no seu caminho, Covas diria a FHC: "Desse jeito não consigo eleger o seu amigo Serjão".
As pedras no caminho têm nome. O Banespa, cujo rombo é de R$ 17 bilhões. E a ameaça da Justiça, que pode intervir em São Paulo por causa de débitos superiores a R$ 5 bilhões.
É muito dinheiro. Sérgio Motta candidato, amigo pessoal de FHC, é a garantia de um futuro azul para Covas. Candidato e eventualmente prefeito, Motta será o principal secretário de Estado de Mário Covas.
Se confirmada, a estratégia será uma espécie inédita de fisiologia: a fisiologia intrapartidária.
FHC e Motta já tomaram a decisão política sobre a candidatura do ministro. Aguardam acertos finais para fazer o anúncio.
Podem abortar a iniciativa. Está difícil acertar o nome do novo ministro para substituir Motta.
A opção tucana de peso seria o ministro do Planejamento, José Serra. Com densidade eleitoral, não ficaria tão dependente de Covas. Só que Serra não quer. Prefere o governo em 98.
Serra desperdiça uma chance de ouro. Em 3 de outubro de 94, teve 2,4 milhões de votos para o Senado na cidade de São Paulo. Na mesma data, Luiza Erundina (PT) teve só 1,7 milhão. E Francisco Rossi (PDT) teve 1 milhão de votos na capital paulista na disputa pelo governo do Estado.
São números eloquentes que muitos tucanos esquecem de considerar.

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