São Paulo, quarta-feira, 17 de abril de 1996
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Filme reproduz miséria

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Alguém disse, ironizando o elogio velado da miséria que no Brasil se expressa através de um certo fascínio pela "vida da favela", que elas são todas iguais: quem já visitou uma, conhece todas.
O mesmo vale para um certo cinema que, a pretexto de mostrar o que há de exótico e de específico em populações miseráveis vivendo à margem dos benefícios do capitalismo, acaba sendo apenas mais um produto da má-consciência do mundo civilizado. Quem já viu um desses filmes, viu todos.
É o caso de "Condenados à Esperança", filme de produção francesa, dirigido pelo chinês Rithy Pahn, sobre uma família de camponeses que vive em condições indigentes plantando arroz.
O filme foi saudado pelo "Le Nouvel Observateur" como "uma pequena obra-prima". Trata-se, pelo contrário, de uma obra cujo único interesse é mostrar que aqui como na China existe um mundo cão ancorado em hábitos rurais.
O que irrita em filmes assim não é tanto a verdade irrefutável que estampam, mas o fascínio que exercem sobre o público que se autodenomina intelectualizado. E pensar que sempre haverá algum antropólogo disposto a ver ali um exemplo da diversidade das culturas. Haja paciência.

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