São Paulo, quarta-feira, 17 de abril de 1996
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Morre Alea, o principal cineasta cubano

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

A morte de Tomás Gutiérrez Alea, ontem às 5h da manhã, em Havana, Cuba, não pegou ninguém de surpresa.
Há anos o mais importante cineasta cubano sofria de câncer e reduzira suas atividades.
Por conta da doença, ele entregou a co-direção de "Morango e Chocolate", de 1994, a seu amigo e ex-assistente Juan Carlos Tabío.
"Morango e Chocolate" foi indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro e tornou-se seu trabalho mais famoso. Mas sua importância não se restringe a isso.
O cinema cubano emergiu como mundialmente importante nos anos 60, após a revolução que levou Fidel Castro ao poder.
É nesse momento que começa a se destacar esse cineasta nascido em 11 de dezembro de 1928.
Independência
Após um primeiro curta-metragem feito em colaboração com o fotógrafo Nestor Almendros, nos anos 50 estudou cinema no Centro Experimental, em Roma.
Voltando a Cuba, opôs-se à ditadura de Fulgencio Batista. Com a tomada do poder por Fidel, foi um dos fundadores do Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica e iniciou-se no longa.
A ligação com os líderes revolucionários da época deu a Gutiérrez Alea uma situação singular na cinematografia cubana.
Em vez de limitar seus movimentos, a proximidade com o poder deu a ele liberdade para assumir uma posição de vanguarda tanto política e social como estética.
Seu primeiro trabalho de peso, a comédia "A Morte de um Burocrata", de 1966, era um forte ataque à burocratização que já começava a se instaurar em Cuba.
A mesma independência -e a vontade de mostrar vários aspectos da vida em seu país sob a revolução- estará presente em "Memórias do Subdesenvolvimento" (1968), seu trabalho seguinte.
O crescimento da influência soviética, no fim dos anos 60, provoca um refluxo em seu cinema.
Seu próximo trabalho a ter repercussão internacional, "A Última Ceia" (1976), refugia-se em temas históricos, perde o humor agudo e iconoclasta.
O reconhecimento internacional em termos de público veio com "Morango e Chocolate". Em plena crise do regime cubano, Alea atacou o histórico preconceito contra homossexuais em seu país.
Ao mesmo tempo, estabeleceu o paralelo entre o homossexual (isolado em Cuba) e a Cuba socialista (isolada após a queda da URSS).
Foi o último momento em que desenvolveu as principais características de seu cinema: a originalidade, a convivência entre humor e preocupação social, independência e fidelidade ao regime cubano.

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