São Paulo, quarta-feira, 17 de abril de 1996 |
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Festival exibe 'A Casa da Rua Arbat'
FERNANDO DE BARROS E SILVA
O filme, o mais premiado entre os que compõem a seleção internacional do festival, vale mais do que muita tinta gasta na tentativa de explicar o que se passou na chamada ex-União Soviética a partir da Revolução de 1917. A idéia de Goldovskaya foi muito simples. Colheu depoimentos de pessoas idosas que moraram num imenso edifício da rua Arbat, no centro de Moscou, a partir de 1917, quando o prédio, construído em 1900 para abrigar aristocratas, foi coletivizado e se transformou numa espécie de imagem concentrada das mazelas da revolução. Um dos méritos da diretora foi ter evitado transformar o justo ressentimento de pessoas frustradas num libelo anti-comunista. Não se trata disso. No mosaico de opiniões que o filme vai exibindo, algumas a favor, outras contra o regime extinto, o que surge diante do espectador é uma profunda tristeza, uma melancolia que dissolve a narrativa da história numa série de dramas individuais. "A Casa da Rua Arbat" é um filme feminino, delicado, menos preocupado em formular teses do que em fazer falar o que ficou calado, em resgatar a vida que poderia ter sido mas não foi. Um dos depoimentos femininos serve como resumo do documentário: "Nosso futuro é formatado pelo nosso passado. Mas agora eu não entendo mais nada. Há muita hipocrisia, muita mentira. O que eu pensava ser bom provavelmente era só ilusão. A única coisa real eram as pessoas. Meus amigos da rua Arbat, isso era real." Texto Anterior: Nana Caymmi volta a lançar canções inéditas em CD Próximo Texto: 'Melodrama' vê cultura com olhos do coração Índice |
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