São Paulo, quarta-feira, 17 de abril de 1996
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O pão de açúcar

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Nos anos 70, um jornal carioca contratou sofisticada equipe de revisores para dar correção, transparência e uniformidade aos textos de seus redatores, repórteres e colunistas.
Entre as regras trazidas pela equipe, figurava em primeiro lugar a cristalina evidência de que o alfabeto então em vigor havia cassado o "y", o "k" e o "w". Cassar, por sinal, era mania da época.
Nas poucas vezes em que era citado, meu nome passou a ser Coni. Quando saiu um dos volumes das memórias de JK, o registro sumário foi feito na base do JC -sigla que habitualmente indica Jesus Cristo. Kubitschek nunca era citado, mas quando o foi, ficou Cubitischeque. A regra da revisão era: "Qualquer um escreve o próprio nome como quiser, mas a redação só tem compromisso com as regras oficiais da ortografia e da gramática". Ok. Quer dizer, oqúei.
Na minha crônica de domingo, aqui na Folha, escrevi "Soberana Graça do Santo Sepulcro", título de uma ridícula ordem nobiliárquica que não sei se ainda existe. As maiúsculas foram para a cucuia, incluindo as do Santo Sepulcro, que até os judeus, que estão em outra, chamam de Santo Sepulcro mesmo, com maiúsculas em inglês e em qualquer outra língua ocidental. Mais ou menos como Pão de Açúcar, que em inglês é Sugar Loaf, sempre com maiúsculas.
A correção de textos escritos em linguagem tradicional (que é sobretudo gramatical) devia ser estendida às fotos e reprodução de quadros. Com um computador de última geração pode-se evitar aquele caos de "Guernica", com cavalo e mulher aos pedaços, bem como toda a obra de Braque e Picasso. Virtualmente -e virtuosamente- podem-se corrigir imagens e fotos para maior unidade, transparência e compreensão por parte dos leitores.
Poucos sabem o que é o Pão de Açúcar. Mas ninguém ignora que pão de açúcar é um pão feito com açúcar muito apreciado no Rio de Janeiro.

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