São Paulo, quinta-feira, 18 de abril de 1996
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'O Dia do Curinga' conta fábula do saber

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Se não fosse pelo escritor Jostein Gaarder e seu "O Mundo de Sofia", a Noruega estaria condenada a ser vista como uma terra gelada, onde pessoas conversam em uma língua que soa com absurda estranheza.
O grande best-seller mundial-e responsável por uma nova vaga da filosofia- retorna ao Brasil com o romance que precedeu toda a febre. "O Dia do Curinga", escrito dois anos antes de "O Mundo de Sofia", chega agora ao Brasil pela editora Companhia das Letras.
Vencedor do prêmio da crítica literária da Noruega, no final dos anos 80, o livro foi o primeiro grande acerto de Gaarder, 44, em sua ambição: criar uma espécie de "livro de aventuras metafísicas" para o público infanto-juvenil.
Um desejo que é consequência direta da formação do autor. Durante anos Gaarder foi professor de filosofia para alunos do secundário de seu país. E, ainda que mascarada de diferentes formas, a filosofia é seu grande tema.
"O Dia do Curinga" conta a grande viagem de um garoto, Hans-Thomas, que, ao lado de seu pai, deixa a cidade de Arendal, na Noruega, e parte em direção à "pátria dos filósofos": Atenas, na Grécia.
O que move essas duas pessoas- tanto física quanto espiritualmente- é o desejo de descobrir o destino da mãe de Thomas. Uma mulher que abandonou a família para poder se "encontrar" no mundo.
Narrado pelo garoto, o que fornece ao romance observações cortantes ou ternas sobre o comportamento dos adultos, o "O Dia do Curinga" não esconde seu território de origem. A fábula.
Como uma clássica história infantil, a caminhada motivada pela busca de um tesouro significa o encontro com um universo mágico. E tem, por consequência, a autodescoberta.
Durante a trajetória Thomas encontra um pequeno ser que o presenteia com uma lente de aumento. Uma lente que, quilômetros mais tarde, o ajudará a ler a história mágica contada em um minúsculo livro.
A história de baralhos, reis e curingas. Mas que é também uma grande metáfora sobre como o homem saiu da pura crença para um dia encontrar a razão.
O instrumento que, durante todos os dias e vários séculos, o lembraria de questões que permanecem sem resposta: "Quem somos? De onde viemos?"
"O Dia do Curinga" serve então como introdução ao universo trabalhado em "O Mundo de Sofia". O próprio Gaarder disse que "Sofia" surgiu em resposta "a necessidade de dar a Hans-Thomas um livro de filosofia para garotos".
Sua fórmula parece única. Concede aos personagens o direito de ver o pensamento como um dado da vida. E não um objeto de estudo para excêntricos.

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