São Paulo, quinta-feira, 18 de abril de 1996
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Cartel financiou Samper, diz chanceler

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Rodrigo Pardo, admitiu publicamente pela primeira vez que a campanha eleitoral do presidente Ernesto Samper foi financiada com dinheiro do narcotráfico.
Pardo afirmou não saber quanto foi doado nem de que forma o dinheiro entrou na campanha.
"Não se pode negar que houve infiltrações do dinheiro (do cartel de Cali)", disse Pardo na noite de anteontem, após prestar seu terceiro depoimento.
Pardo foi chamado pela Justiça para depor junto com os ministros Horácio Serpa, do Interior, e Juan Manuel Turbay, das Comunicações.
Os três ministros foram diretores da campanha eleitoral de Samper em 1994. Pardo cuidava da parte de comunicação. Todos são suspeitos de enriquecimento ilícito e fraude e podem ser presos.
Nas sessões anteriores, Pardo havia negado as acusações do ex-ministro da Defesa Fernando Botero e do tesoureiro da campanha de Samper, Santiago Medina, sobre a doação do cartel de Cali.
Por conta dessas denúncias Samper sofre investigação do Congresso, que pode levar a um pedido de impeachment do presidente.
O chanceler afirmou que só este processo vai poder definir quem foram as pessoas que aceitaram dinheiro do cartel de Cali.
"É bastante evidente que existiu irregularidade (doação de narcodólares) na campanha, mas a Justiça é que deverá dizer como ela foi realizada", disse.
Ele defendeu Samper. "O presidente colombiano não é o responsável." E acusou Botero de conhecer a origem do "dinheiro sujo".
A fase de recolhimento de provas e interrogatórios do processo contra Samper termina na próxima semana, segundo a comissão do Congresso que apura o caso.
O processo será então encaminhado ao plenário da Câmara, que irá decidir se arquiva o caso ou apresenta acusação contra presidente colombiano no Senado.
Caso isto ocorra, Samper será afastado de suas funções até o final do processo no Congresso, em que será pedida ou não a sua saída definitiva.
Samper diz ser inocente das acusações de Botero e Medina, ex-grande amigo do presidente. Pardo era citado pela imprensa do país como uma das últimas figuras políticas ainda muito próxima a Samper, em quem ele ainda depositava confiança.
Samper foi ontem a Puerres, sul da Colômbia, onde 31 militares foram mortos em uma emboscada de rebeldes esquerdistas.
Ele participou do enterro de 16 militares mortos em Ipiales, cidade na fronteira como o Equador.
O presidente colombiano criou um conselho de segurança para região, como parte das medidas de emergência anunciadas ontem para acabar com as ações terroristas do grupo Forpas Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e de outras guerrilhas do país.

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