São Paulo, quinta-feira, 18 de abril de 1996
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QUEM MAMA, CHORA

O presidente FHC anunciou nos últimos dias um compromisso corajoso, ainda que de penosa execução: não teme a impopularidade em nome do ajuste das contas públicas.
Como sociólogo que é, o presidente conhece bem a praga que ameaça as sociedades contemporâneas. É o corporativismo, uma inversão de valores pela qual a burocracia estatal, que a princípio existe para servir à sociedade, dela se serve. Dificilmente, portanto, o presidente será impopular se der prioridade ao ajuste das contas públicas e à contenção das demandas da tecnoburocracia.
É a mesma burocracia que obteve reajustes excepcionais no final da gestão Itamar. E, nos últimos dois anos, muitos saíram à cata de aposentadorias antecipadas ou mesmo integrais. É a corporação que na Constituição de 1988 logrou (em todos os sentidos) privilégios em termos de estabilidade. É também um grupo favorecido, em muitos casos, por esquemas de seguridade amparados em gordas contribuições das estatais ou do Tesouro que sangram os contribuintes e dificultam o resgate das funções sociais do Estado.
É, portanto, uma corporação que abriga muitos privilégios e, como regra, sacrifica os seus membros mais próximos da população, caso dos professores do ensino básico.
Os privilegiados merecem, assim, o mesmo tratamento dispensado aos grevistas da Petrobrás.
Urgente não é o reajuste indiferenciado, mas uma reforma administrativa e o resgate das funções técnicas e das atividades-fim, assim como a reconstrução das carreiras e o controle sobre as formas camufladas de remuneração e privilégio.
Tudo isso, que realmente importa, produzirá reações previsíveis. Quem não chora não mama, diz o ditado. No funcionalismo, quase sempre vale a inversa: o menor esforço de austeridade é recebido à vaia e greve, mas, sobretudo, sob o estridente berreiro de quem acha impossível desmamar.

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