São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O MASSACRE DE QANA

É absolutamente inaceitável e merece veemente condenação o ataque israelense contra refugiados libaneses numa área controlada pela ONU, que resultou na morte de dezenas de civis, incluindo mulheres e crianças.
Mesmo que seja verdadeira a alegação do governo israelense e de membros da ONU de que a milícia xiita Hizbollah aproveitou-se da presença de refugiados na área para lançar mísseis contra o norte de Israel, este país, como Estado constituído, tem uma responsabilidade para com a vida humana que seria ilusório cobrar de um grupo terrorista como o Hizbollah. Ao responder a todo ataque sem se importar com a vida de inocentes, as forças israelenses como que se igualam a seus inimigos.
A pergunta que fica agora é o impacto que o massacre de Qana terá sobre o processo de paz no Oriente Médio. Parece evidente que a situação fica bastante mais difícil para Israel, que passa do papel de vítima dos ataques terroristas suicidas para o de algoz. As reações internacionais são eloquentes nesse sentido.
De outro lado, porém, seria precipitado afirmar que a paz na região mais conturbada do planeta nos últimos 50 anos está definitivamente comprometida. Ontem o premiê israelense, Shimon Peres, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, retomaram negociações que haviam sido suspensas por conta dos atentados contra Israel.
A lição a tirar desse hediondo episódio é que, mesmo empregando moderna e sofisticada tecnologia militar, Israel não consegue desestruturar o Hizbollah, que atua na forma de guerrilha, o pesadelo de todo exército, por melhor e mais bem equipado que seja. Só quem sofreu pesadas baixas foi a população libanesa. Isso mostra que a única chance para a paz passa pelo imediato fim das ações bélicas e pelo rápido entendimento com as autoridades sírias e libanesas. O processo de paz já avançou muito para que, agora, se ponha tudo a perder.

Texto Anterior: TRAGÉDIA VERGONHOSA
Próximo Texto: QUALIDADE MÍNIMA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.