São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 1996
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QUALIDADE MÍNIMA

Os imperativos de competitividade fizeram com que, nos últimos cinco anos, começasse a ser mencionado no Brasil, cada vez com mais frequência, o desafio da chamada "qualidade total".
Em que pese a inegável importância de que essa meta seja atingida na prestação de serviços e na oferta de produtos ao consumidor, tem-se a impressão de que, ao menos nos serviços públicos de saúde no Brasil, antes de se pensar em qualidade total é premente assegurar aos cidadãos um patamar básico de decência, abaixo do qual a condição humana caminha fatalmente para o aviltamento.
A urgência dessa tarefa pode ser demonstrada pela gravidade dos dois incidentes ocorridos recentemente em Pernambuco e São Paulo: a morte, até o momento, de 42 pacientes submetidos à hemodiálise em Caruaru (PE) e a profusão de efeitos colaterais em 7.500 crianças vacinadas em Campinas (SP) e Hortolândia (SP) na última segunda-feira.
Para a tragédia pernambucana, concorreram três funestas omissões: da clínica de hemodiálise, que não fazia os exames na água usada no tratamento e empregava mão-de-obra não-especializada; dos governos locais, que não inspecionavam o instituto de doenças renais; e do Ministério da Saúde, que não regulamentou ainda os procedimentos de fiscalização. No caso paulista, suspeita-se de que tenha havido contaminação, embora se afirme também -o que é pior- que as vacinas contra meningite usadas em Campinas teriam sido aprovadas pelos próprios "controles de qualidade" do laboratório.
Independentemente dos exames laboratoriais e dos inquéritos que, espera-se, deverão apurar, com máxima presteza, esses incidentes e seus responsáveis, o fato é que os problemas do controle de qualidade no país ainda são clamorosos.
Nos casos em que ainda não se garantiu nem mesmo a qualidade mínima necessária para que ao menos seja preservada a integridade física dos cidadãos, falar de "qualidade total" soa, por enquanto, infelizmente, como um sonho muito distante.

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