São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 1996 |
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Inferno astral
FERNANDO RODRIGUES Brasília - O vice-presidente da República, Marco Maciel, costuma lembrar das épocas em que era parlamentar."Muita gente me perguntava se era possível ajudar a aprovar um determinado projeto de lei. Eu sempre dizia que é mais fácil fazer o contrário. É muito mais fácil fazer uma lei não ser aprovada", diz o vice. Maciel é um otimista. Apesar das dificuldades que ele mesmo enfrentou e criou no passado, acha que o governo FHC conseguirá aprovar muita coisa neste ano no Congresso. "Acho que passa a reforma da Previdência, a administrativa, parte da fiscal", disse Maciel a esta coluna. Ao mesmo tempo, o cauteloso vice-presidente não faz previsões de longo prazo. "Em política, é difícil fazer previsões para mais de três meses." Maciel quase nunca erra. Mas deu suas declarações anteontem à noite. Não sabia ainda das mortes de sem-terra no Pará nem da manobra de deputados para atrasar a lei de patentes. Acertou ao ponderar sobre a imprevisibilidade em política. As dificuldades que o governo FHC tende a enfrentar até o final do ano são enormes. Gente bem-informada em Brasília aposta que nenhuma reforma constitucional passará no Congresso até dezembro. Seria uma catástrofe para os planos de FHC. O presidente quer se livrar da maldição dos três quintos. É uma referência ao quórum necessário para alterar a Constituição. Se não fizer as reformas vitais neste ano, terá de encaminhá-las em 97. Pode abandonar as reformas. O Plano Real ficaria imediatamente em perigo. Isso inviabilizaria a reeleição. FHC tropeçou ao imaginar que a inflação baixa seria eternamente uma âncora de sustentação política no Congresso. Ainda tem sido entre os eleitores. Mas, entre parlamentares, a história é diferente. O presidente faz aniversário em junho. Pode estar no seu inferno astral. Nesse caso, a maré de azar começou muito cedo. Texto Anterior: Massacres, "just-in-time" Próximo Texto: Viajando na maionese Índice |
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