São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 1996
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Viajando na maionese

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Estamos condenados a viajar na maionese da reeleição nos próximos três anos. Mal tomou posse, FHC só pensa nisso. Eleito para administrar o Brasil, abandonou o país à própria sorte, preocupando-se apenas com a parte política para a qual não foi eleito.
Daí suas viagens e suas articulações que têm, como equipamento principal, a eficiência do "Diário Oficial". Impressionante a trajetória do presidente nesses meses de governo. Está sempre em reuniões, conchavos, conciliábulos, fala pelos cotovelos, suas fotos parecem sempre as mesmas. Trabalhar no pesado, despachar com ministros, cobrar tarefas e planos -nada disso o preocupa. A administração ficou relegada à máquina que ele não faz trabalhar alegando que ela precisa de reformas.
Os presidentes que mais se destacaram, como JK e Rodrigues Alves, herdaram máquinas mais emperradas do que a atual. Com criatividade e inteligência fizeram a geringonça funcionar.
FHC foi constituinte e, na esperança de ser indicado por Ulysses para um ministério de Sarney, apoiou quase tudo o que agora pretende reformar. No fundo, as reformas são pretexto para nada fazer, deixando o país à deriva em todos os setores: segurança, educação e saúde principalmente.
No discurso e no gesto, FHC continua candidato. Não tomou conhecimento de que o administrador principal da nação é ele mesmo. O dia-a-dia do país escorre na maionese que só é abalada pelos escândalos neutralizados pela força do "Diário Oficial".
Para efeito externo, o governo exibe o azeite e a gema de ovo que fizeram a maionese: o controle da inflação e a relativa estabilidade dos preços. Acontece que tanto o azeite como a gema do ovo terão uma fatura astronômica.
O governo é o primeiro a saber que está mistificando. Mas o importante é conseguir a reeleição para deleite dos sibaritas do poder.

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