São Paulo, sábado, 20 de abril de 1996
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Líder foi morto com tiro à queima-roupa

LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A ELDORADO DE CARAJÁS E CURIONÓPOLIS

Relatos colhidos pela Folha entre autoridades e sem-terra indicam que Oziel Lima, 17, um dos líderes, foi assassinado.
A reconstituição do caso mostra que Oziel foi morto com um tiro na testa, à queima roupa.
"Está claro que Oziel foi tirado de lá vivo. Tudo indica que ele tenha sido executado à queima roupa", afirmou ontem o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Wagner Gonçalves.
Marina Romão, repórter da TV Liberal que presenciou o confronto, conta que se escondeu junto com Oziel e cerca de 50 pessoas em um barraco. "O Oziel estava lá também. Querendo sair para defender seus amigos que estavam sendo mortos e feridos", afirmou.
Imagens gravadas no local mostram a repórter saindo da casa, pedindo para que os policiais não atirassem porque havia mulheres e crianças dentro da casa.
"A PM atendeu ao pedido e parou de atirar. Eu saí, e os policiais me levaram para dentro de um ônibus e não me deixaram ver mais nada que acontecia dentro da casa. Tenho certeza de que Oziel estava vivo quando saí", relata.
"Vi quando arrastaram o Oziel para fora e levaram para a rodovia. Eles batiam nele, chamavam ele de vagabundo e diziam para ele gritar 'viva o movimento sem terra'. Depois, deram um tiro na cabeça dele", relatou Francisca da Costa Ribeiro, sobrevivente.
Lama
Mazinho Matilde de Souza, 10, conta uma história parecida.
"Mandaram a gente sair e deitar na lama. Fiquei na lama junto com minha mãe. Aí pegaram o Oziel e bateram nele. Depois, mataram ele com um tiro", relatou.
O deputado estadual João Batista (PT), vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Pará, afirma que viu o corpo de Oziel em Marabá. "Ele tinha um tiro bem no meio da testa."
Gonçalves, o procurador dos Direitos do Cidadão, que esteve ontem em Eldorado de Carajás e Curionópolis, disse ter ouvido versões que coincidem com os relatos obtidos pela Folha. Segundo ele, o caso de Oziel "é o mais grave".
A Folha tentou entrar em contato com o major José Maria Oliveira, que participou da operação.
No comando da PM em Parauapebas, informaram que o oficial estaria incomunicável em Curionópolis e que nenhum outro militar estava autorizado a falar.

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