São Paulo, sábado, 20 de abril de 1996
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Soldado afirma que primeiro disparo partiu dos sem-terra

IRINEU MACHADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARABÁ

O soldado da Polícia Militar Édson Almeida Santos, 25, do Batalhão da Polícia Militar de Marabá, um dos feridos no confronto, contou à Agência Folha a sua versão sobre o conflito.
Ele relatou sua trajetória, desde a saída dos policiais do Batalhão da Polícia Militar, até o momento em que levou um tiro no peito e foi socorrido pelos colegas:
"Eu estava no quartel de plantão na quarta-feira, junto com os outros soldados do batalhão, quando recebemos uma ordem do coronel Pantoja (Mário Colares Pantoja, então comandante da PM em Marabá). Ele disse que iríamos desobstruir a pista, na rodovia PA-150, que estava ocupada pelos sem-terra.
"Como sempre, ele pediu que tivéssemos o máximo de cautela possível, e que trabalhássemos direito. A gente foi para os ônibus do batalhão, e quando chegamos no local, descemos.
"Nosso grupo tinha uns 60 homens. Eu estava no pelotão de frente, que são os soldados só com escudo e cassetete. Éramos o primeiro grupo, e fomos em direção aos sem-terra para afastá-los do meio da pista.
"Quando eu estava a uns três metros deles, recebi um tiro no peito. Senti o tiro e caí. Não me lembro de ter ouvido nenhum disparo antes disso. Não prestei muita atenção no que aconteceu depois disso. Eu fiquei desesperado. Pensei que ia morrer. Comecei a ouvir vários disparos.
"Depois, um colega me socorreu e me trouxeram para o hospital. O médico me disse que a bala é de calibre 38. Eu tenho certeza que o disparo veio dos sem-terra. Eu estava de frente para eles, mas não vi quem atirou.
"Só no dia seguinte eu fiquei sabendo que várias pessoas tinham morrido no conflito. Eu não esperava que isso fosse acontecer.
"Eu estou aqui no Hospital Celina Gonçalves. Até agora (sexta-feira à tarde), a bala ainda não foi retirada do meu corpo. Segundo o doutor Carlos Costa, eu não corro risco de vida.
"Quando sair do hospital, quero continuar na PM. Entrei para a PM um ano depois de servir o Exército. Antes, trabalhava numa farmácia em Marabá.
"Deixei o emprego aos 18 anos, para ir para o Exército. Prestei o concurso para a PM porque não queria sair da carreira militar. Estou na PM há quatro anos. Ganho R$ 200,00 por mês."

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