São Paulo, sábado, 20 de abril de 1996
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Trabalhador rural diz ter sido espancado após levar 2 tiros

'Eu vi um policial militar atirando na cabeça de um homem'

IRINEU MACHADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARABÁ

O trabalhador Josimar Pereira de Freitas, 32, disse que estava na frente dos policiais quando eles começaram a atirar, e que foi o primeiro atingido pelos disparos.
Ele relatou à Agência Folha os momentos que antecederam o conflito. Diz que viu, enquanto caía, amigos serem espancados:
"Estávamos no meio da pista, cantando nossos hinos, que sempre cantávamos. São hinos do movimento dos sem-terra. Primeiro, chegaram dois ônibus trazendo policiais de Parauapebas. Os policiais ficaram a uns 300 metros de onde estávamos. Depois, vieram mais ônibus trazendo soldados de Marabá.
"Depois de alguns minutos, eles vieram em nossa direção. Eu estava com o grupo da frente. Eles vieram para cima de nós em grupo, fizeram um cerco. Levantamos as nossas mãos e pedimos paz para eles. De repente, sem mais nem menos, começaram a atirar e jogar bombas de gás em nós. Eu estava bem perto. Levei dois tiros na perna direita, logo que eles iniciaram os disparos.
"Eu caí na hora. Fiquei no chão, sentindo dor na perna. Aí vieram dois policiais militares, um de cada lado de mim, e começaram a me espancar. Eu me virava de um lado para o outro no chão e tentava proteger o meu rosto, que eles não conseguiram acertar. Me bateram bastante. Me acertaram chutes nas costelas.
"A dois metros de onde eu estava eu vi um policial militar atirando na cabeça de um homem. Eu vi a hora que a bala entrou e ele caiu. Era o 'Badé', um companheiro nosso.
"Eu continuei a ouvir vários tiros. Vi muitos ataques de cassetete em pessoas que estavam caídas no chão. Foi uma atitude covarde dos policiais.
"Quando a coisa ficou mais calma, dois cunhados e um irmão me levaram, mas a polícia ainda estava atirando. Graças a Deus, eu consegui ser levado dali. Se passaram umas duas horas até eu ser levado para o hospital.
"Eu estou com o pessoal dos sem-terra faz oito meses. Entrei porque tinha a esperança de ganhar um pedaço de terra para trabalhar. Sou lavrador. Estou desempregado e já trabalhei em várias fazendas por aí onde pagavam um salário que não dava nem para comprar roupa. Eu queria saber o que vai acontecer com a gente agora, pois agora é que não podemos trabalhar mesmo. Não sei nem se vou poder andar".

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