São Paulo, sábado, 20 de abril de 1996
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Empresa americana pirateia o Café Pelé

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Esta é uma situação inédita: uma companhia brasileira sendo vítima de pirataria praticada por empresa americana, no exterior.
Pois está acontecendo com a Companhia Cacique de Café Solúvel, que vende na Rússia o Café Pelé, caso raro de marca brasileira em produto internacional.
E é tão forte a marca que uma empresa americana de Miami, sob o obscuro nome de RCP Inc., começou a exportar para a Rússia o "seu" Café Pelé, em embalagem parecida com a do produto brasileiro.
A embalagem americana, entretanto, é de qualidade inferior e traz as inscrições apenas em inglês. A brasileira, a legítima, é mais elaborada, com inscrições em russo.
A Cacique comprovou a pirataria. Por meio de parceiros russos, conseguiu importar uma pequena parcela do produto americano. A Folha não conseguiu localizar a empresa em Miami.
Pelé
Isso feito, a companhia entrou em contato com Pelé, já que a Cacique não detém a marca nos Estados Unidos.
Pelé acionou seu escritório de advocacia em Nova York, que entrou no circuito e constatou que a empresa de Miami estava simplesmente tentando registrar a marca Pelé nos Estados Unidos.
Advogados da Cacique, que também tem escritório nos Estados Unidos, acionaram a companhia pirata, da qual ouviram uma explicação surpreendente. A de que não estavam registrando o nome do craque do futebol, mas tão-somente a palavra "Pelé".
No decorrer da ação, entretanto, a companhia de Miami enviou correspondência à Cacique, informando que ia desistir do registro e das exportações para a Rússia.
O presidente da Cacique, Sérgio Coimbra, está esperando para ver. E preocupado. O produto pirata americano é apresentado como se fosse café brasileiro de qualidade.
Mas é produto equatoriano de má qualidade, diz Coimbra, que mandou analisar o café pirata.
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A Cacique vende duas marcas de solúvel na Rússia -Pelé e Cacique. Ambas são marcas fortes e associadas ao café do Brasil.
Nas campanhas de publicidade, feitas por distribuidores locais, os filmes de televisão terminam sempre com a expressão "é do Brasil".
Num desses filmes, por exemplo, o ator aparece jogando fora uma calça jeans, porque não é americana, um aparelho de som, porque não é japonês, e uma lata de café solúvel, "porque é europeu".
Hoje, a Cacique detém 23% do mercado russo de solúvel. Vende anualmente 10,5 mil toneladas, enfrentando a concorrência de 28 marcas, todas de multinacionais.

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