São Paulo, sábado, 20 de abril de 1996
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Salários deixam de acompanhar inflação

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

As grandes categorias profissionais do Estado de São Paulo não estão conseguindo, este ano, nem sequer repor as perdas salariais em suas datas-bases.
Aumento real (acima da inflação) e acordos de participação nos lucros, nas negociações coletivas com a indústria, nem pensar.
É o caso dos metalúrgicos da CUT empregados pelos setores de máquinas e eletroeletrônicos (80 mil, com data-base em abril), dos trabalhadores da construção civil (800 mil, com data-base em maio) e dos trabalhadores da indústria de cana, álcool e açúcar -400 mil, com data-base em maio.
"A lei salarial permite reajustes bem abaixo da inflação e o desemprego crescente intimida os trabalhadores. Os empresários se aproveitam disso e endurecem nas negociações", diz Antônio Prado, do Dieese, órgão de assessoria econômica dos sindicatos.
Para João de Souza Coelho Filho, vice-presidente para relações capital/trabalho do Sinduscon (representa as construtoras), o problema é outro. "Este ano as negociações se dão em novo parâmetro: a inadimplência, vendas em queda e inflação baixa nos impedem de repassar qualquer reajuste salarial aos preços. Hoje, aumento salarial significa mais desemprego e até fechamento de indústrias", afirma.
Índices
Os trabalhadores da Construção Civil pedem 20% de reposição da inflação, medida pelo INPC, mais 12% de aumento real.
A proposta do Sinduscon, em negociação realizada ontem, ficou em 4,44% (o previsto na lei) para o piso e 7,44% para salários maiores.
Coelho Filho admite que o índice proposto não repõe a inflação nos salários -mesmo a medida pelo IGP desde a última data-base dos trabalhadores ficou em 13%.
"Utilizamos mão-de-obra extensiva, que representa até 50% do nosso custo final. Caso os salários subam 20%, os preços dos contratos teriam de ser reajustados 10%."
Segundo ele, os contratos da construção civil foram reajustados em cerca de 3% desde a última data-base dos trabalhadores. "Não temos de onde tirar gordura."
No caso dos trabalhadores da indústria de cana, açúcar e álcool, o reajuste reivindicado chega a 33%.
"Os empresários só estão oferecendo o previsto em lei, 4,44%", diz Sérgio Luiz Leite, da federação.
Antecipações
As antecipações salariais -reajustes antes da data-base- também estão em baixa este ano.
Segundo a Arthur Andersen, 2,60% de um universo de 77 grandes empresas de São Paulo concederam antecipações em março. No mesmo mês em 95, o total chegava a 52,83%. No Rio, o percentual caiu de 14,58% para 6,38%.

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