São Paulo, sábado, 20 de abril de 1996
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Métodos do ataque à base permanecem obscuros

CHRISTOPHER BELLAMY
DO "THE INDEPENDENT"

Ainda não estava claro, ontem à noite, por que as forças armadas israelenses haviam atingido uma base da ONU claramente marcada, matando 101 refugiados libaneses refugiados no local, quando supostamente visavam atingir lança-foguetes escondidos a 300 metros de distância. Mas fontes dos serviços de inteligência acreditam que os israelenses reagiram rápido demais ao lançamento dos foguetes, sem verificar se havia alguma instalação delicada nas proximidades. A conduta e os procedimentos adotados pelas forças israelenses deixam lugar a dúvidas sobre se realmente tentavam eliminar os lança-foguetes do Hizbollah com ataques de alta precisão, e também em relação a seu profissionalismo.
A forma pela qual os israelenses vêm conduzindo seus ataques aéreos de artilharia contrasta com os ataques da Otan a posições dos sérvios bósnios, em setembro do ano passado. Na Bósnia, a Otan e a ONU traçaram listas de milhares de alvos potenciais, a maioria dos quais foi descartada por estarem demasiado próximos de áreas civis e porque atacá-los implicaria o risco de "danos colaterais". Quando os sérvios dispararam sobre Sarajevo, a Otan respondeu com ataques precisos que receberam apoio mundial. Se os israelenses esperavam pelo mesmo apoio quando reagiram aos ataques de artilharia e foguetes do Líbano, se enganaram.
O que é certo é que a aparente inexatidão dos israelenses é quase incompreensível. O sistema Firefinder norte-americano, composto por dois radares AN-TPQ-36 colocados à frente e um radar maior TPQ-37 atrás, traça o caminho seguido por projéteis de artilharia, morteiros ou foguetes, e pode localizar o ponto de lançamento com margem de erro de dez metros. O sistema Firefinder situa o ponto de lançamento em um mapa e depois disso só é preciso marcar as coordenadas no computador, no centro de direção de disparos. A posição dos canhões individuais é definida por um sistema de posicionamento global. O computador também leva em conta a densidade do ar, a temperatura do disparo e a direção e velocidade do vento, fatores que afetam o vôo dos projéteis. A primeira salva deve, portanto, acertar o alvo com precisão, e com certeza não cair a 300 metros de distância, como parece ter acontecido na quinta-feira.
Um Exército que procurasse realizar ataques "cirúrgicos" a alvos esquivos, como os lança-foguetes do Hizbollah, marcaria pontos delicados -povoados e bases da ONU- e os faria cercar por uma zona de segurança designada, de modo que seria impossível disparar contra eles inadvertidamente. Evidentemente, os israelenses não contavam com tais salvaguardas. Mas mesmo que tivessem se apressado demais em disparar, as chances de morteiros mal-dirigidos caírem sobre uma base da ONU parecem ser muito pequenas, e as dúvidas sobre o que realmente aconteceu permanecem.

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