São Paulo, sábado, 20 de abril de 1996
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Beirute teme obstáculos à reconstrução do país

IGOR GIELOW
DO ENVIADO ESPECIAL

Às 6h47 de ontem, quando o vôo 8266 da Air France tocou a pista do aeroporto internacional de Beirute, a imagem era de desolação.
Todos os terminais de carga estavam vazios. Apenas um avião, um Airbus da libanesa Middle East Airlines, estava parado. Acabara de chegar, ia reabastecer e voar de volta para a Europa.
Foi assim o dia inteiro. Aviões vinham, reabasteciam e voltavam. Agora, apenas a Air France, a Middle East e a British Airways fazem a rota regularmente. A British Mediterranean suspendeu vôos.
Na semana passada, um depósito do aeroporto foi destruído pela artilharia da Marinha israelense. Ontem, a cerca de 5 km da costa libanesa, era possível ver dois navios do porte de fragatas israelenses fazendo manobras.
Há também a lembrança do ataque israelense de 1968, quando 13 aviões civis foram destruídos no aeroporto em represália a atentado contra um avião de Israel na Grécia.
Fitas pretas
À exceção dos setores árabes controlados pelo Hizbollah, Beirute estava em relativa calma ontem. O dia foi decretado de luto nacional pelos mortos nos ataques contra civis de anteontem.
Fitinhas pretas, ao estilo das fitas vermelhas de campanhas anti-Aids, eram pregadas nos pedestres. Traziam inscrito em árabe "sim à violência".
Não é possível ficar no aeroporto. Quem chega é enxotado por soldados armados com fuzis para uma espécie "baia", onde taxistas se avolumam.
Por US$ 30, chega-se ao centro da cidade, à rua Hamra. Nela ficam as principais lojas e, de relance, lembra a rua 25 de Março, no centro de São Paulo, que concentra atacadistas cujos donos são, em boa parte, árabes ou descendentes.
Apesar do clima de tristeza pelos mortos, a revolta parece maior porque o país estava ensaiando uma volta ao desenvolvimento.
"Estávamos indo tão bem. Agora pode voltar tudo ao tempo da guerra civil", disse Hatif Abdullah, dono de uma loja de aparelhos eletrônicos na Hamra.
Em 1993, o premiê Hafik al Hariri anunciou plano para atrair US$ 13 milhões em investimentos para o Líbano, país arrasado por mais de uma década de guerra civil.
Mistura
As áreas cristãs e árabes que não estão sob controle do Hizbollah são uma mistura de ruína e canteiro de obra.
Ruína porque todo o centro antigo foi destruído na guerra civil e na invasão de Israel (1982-84). Canteiro de obras porque todo um novo centro está sendo construído, com direito a estádio de futebol.
A reconstrução de Beirute e a escavação de antigos tesouros arqueológicos virou tema de uma exposição que ocorre no Museu Britânico, em Londres.
(IG)

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