São Paulo, sábado, 20 de abril de 1996
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MASSACRE

Já estava evidente que o brutal nível de violência empregado pela Polícia Militar no massacre ocorrido há três dias em Eldorado de Carajás, no Pará, não guardou qualquer proporção com o que deveria ser uma ação de liberação de uma rodovia indevidamente obstruída pelos trabalhadores sem-terra. O aparecimento de fortes sinais de que houve assassinatos, e não apenas mortes resultantes de tiroteio, torna a tragédia ainda mais grave -se é que isso é possível.
A Folha teve acesso a laudos da Polícia Técnica que apontam claros sinais de que alguns dos mortos foram assassinados, com tiros à queima-roupa, na testa e na nuca. A história recente de assassinatos no campo e de quase que absoluta impunidade no Pará tampouco depõe a favor das autoridades do Estado.
Já era inadmissível que uma situação aparentemente administrável -ao que parece o movimento dos trabalhadores sem-terra estava disposto a livrar a estrada sob a exigência de transporte, alimentos e uma reunião com a autoridade do Incra- tenha resultado em um enfrentamento com tal saldo de mortos e feridos.
O frio assassinato de pessoas já desarmadas, imobilizadas e talvez feridas, se efetivamente confirmado, coloca o caso na esfera do crime. Em vez de apenas um trágico confronto armado entre a polícia e manifestantes, o país estaria diante de uma verdadeira carnificina. Promovida pelo poder público, à luz do dia.
Em face das dúvidas que pairam sobre o desenrolar dos acontecimentos e da extrema gravidade de algumas das suspeitas agora correntes, impõe-se que se permita o mais amplo acesso aos laudos técnicos e a completa transparência nos inquéritos. Que as apurações das comissões que foram ao Pará não sejam obstruídas.
A investigação rigorosa dos fatos e a punição implacável dos eventuais responsáveis é o único modo de evitar que sobre a mácula do massacre se sobreponha ainda a impunidade.

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