São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
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Polícia divulga lista oficial dos mortos

GEORGE ALONSO
DO ENVIADO ESPECIAL A MARABÁ (PA)

Cinco dias depois do massacre de Eldorado de Carajás (PA), a Polícia Civil do Pará divulgou a lista oficial dos mortos -ao todo 19- no conflito
Até ontem, eles eram apenas corpos sem identificação.
Os laudos oficiais sobre a causa das mortes ainda estão sendo elaborados.
Depois de prontos, os documentos deverão ser encaminhados a Belém, capital do Estado, para conhecimento do governador Almir Gabriel (PSDB).
Precariedade
As fichas de identificação divulgadas são precárias. Faltam dados precisos sobre cada um dos sem-terra mortos.
Em três casos, as informações são bastante sumárias (em um deles, só se sabe o primeiro nome, "Antonio", e apelido, "Irmão").
Segundo o levantamento feito pela polícia, a maioria das vítimas (sete) nasceu no Maranhão.
Entre os mortos, 15 eram trabalhadores rurais. Há um "borracheiro" e um "fotógrafo" (veja o quadro ao lado).
Além disso, a maior parte tinha residência conhecida em municípios da região, como Parauapebas e Curionópolis. Um deles, Antonio Costa Dias (antes identificado apenas por "corpo 2"), era o único que morava em uma fazenda, denominada Chega com Jeito.
Líder único
Oziel Alves Pereira, 18, foi o único militante do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que morreu no episódio.
Todos líderes realmente escaparam, entre eles, Onalício Araújo ("Fusquinha"), Eurival Carvalho ("Totó") e Clenon Ferraz.
Nos dias que antecederam o conflito, eles foram os principais negociadores do MST com a Polícia Militar de Parauapebas, especificamente o major José Maria Oliveira, que comandou um dos grupos de policiais que entraram em confronto com os sem-terra.
Às vésperas do conflito, o governo não enviou qualquer representante na área para negociar uma saída, embora mantivesse contatos telefônicos com "Fusquinha", principalmente. A polícia queria pegar especialmente esses líderes.
A direção estadual do MST tem nove integrantes. A coordenação estadual é um colegiado mais amplo: tem 21 membros. O acampamento da fazenda Macaxeira era coordenado por 27 pessoas.
Mosaico
O sul do Pará, um das regiões mais conflagradas do país, é um mosaico de grandes latifúndios e terras cuja posse sofrem contestações.
O fim dos castanhais, do garimpo de Serra Pelada e o surgimento de grandes fazendas gerou aumento do desemprego na região.
Esse quadro facilitou o trabalho do MST de arregimentar grande número de famílias em cidades e vilarejos da região.
Segundo o MST, havia no acampamento de Macaxeira cerca de 4.900 pessoas, das quais 1.800 participaram do bloqueio da rodovia PA-150, que deu origem ao conflito.
(GERGE ALONSO)

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