São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
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Polícia desrespeita acordo e volta às ruas

LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A CURIONÓPOLIS

A PM (Polícia Militar) de Parauapebas, leste do Pará, voltou a colocar policiais nas ruas da cidade, desobedecendo ordens do Exército. A atitude é considerada pela Força Armada como quebra de acordo.
Anteontem, às 23h, a Folha presenciou um militar fardado em uma camionete pelas ruas de Curionópolis com outros três policiais armados na carroceria. Um deles carregava uma escopeta.
Segundo relato de sem-terra sobreviventes do massacre ocorrido na última quarta-feira, esse mesmo veículo foi utilizado pela Polícia Militar para levar corpos de vítimas do confronto, inclusive de crianças.
Na varredura da área do conflito feita pelo Exército até sexta-feira, não foram encontrados corpos de crianças, permanecendo em 19 o número oficial de mortos.
A PM também voltou a montar guarda na barreira na entrada da cidade. Dois policiais estavam no posto às 21h de anteontem.
Acordo
A iniciativa da polícia paraense "fere um acordo", disse o oficial do Exército de plantão ontem no destacamento de Eldorado de Carajás, capitão Castro.
Um dia depois do conflito, o comandante da PM de Parauapebas, major José Maria Oliveira, recebeu ordens do Comando do 23º BIS (Batalhão de Infantaria de Selva), do Exército, para manter os policiais recolhidos no quartel.
Oliveira comandou sua tropa no conflito com os sem-terra. O destacamento da PM de Marabá também participou da operação, sob comando do coronel Mário Colares Pantoja.
O capitão Castro afirmou que, além de descumprir o "acordo", a PM está colocando policiais em risco ao enviá-los de volta às ruas.
Segundo ele, o clima entre os sem-terra da região é de hostilidade contra a polícia, o que poderia gerar incidentes.
Segurança precária
É precária a segurança pública em Parauapebas, Curionópolis e Eldorado de Carajás.
Com exceção da ronda de policiais presenciada pela Folha, a área está quase sem vigilância ostensiva, apesar da presença de outros 140 policiais enviados de Xinguara e Redenção.
O Exército mantém 90 soldados no QG improvisado em Eldorado de Carajás e não promove rondas. Somente militares do serviço de inteligência do Exército atuam, à paisana, como "olheiros".
O policiamento de rotina acaba não sendo feito nem pela PM nem pelo Exército.

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