São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
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Investigação leva autoridades a confronto

RAYMUNDO COSTA
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

A investigação que vai apurar a responsabilidade da Polícia Militar (PM) na morte de 19 sem-terra em Eldorado de Carajás mal começou e já colocou em confronto as principais autoridades do Pará.
Na manhã de ontem, o promotor militar Gilberto Valente Martins, 34, encarregado da investigação, pediu a prisão preventiva do comandante da PM, Fabiano José Diniz Lopes, e do coronel Mário Colares Pantoja, que comandou o ataque aos sem-terra. Foi desautorizado por seus superiores.
Tão logo soube do pedido, protocolado na Auditoria Militar, o procurador-geral da Justiça, Manoel Santino Nascimento, telefonou para Gilberto. Disse que ele não tinha competência para pedir a prisão de autoridades estaduais.
Aos gritos, Nascimento ameaçou afastar Gilberto da investigação. convocou também uma reunião do Conselho Superior do Ministério Público para tratar da punição a ser aplicada ao promotor.
O conselho se recusou a afastar Gilberto Martins.
Paralelamente, o Tribunal de Justiça do Estado, que sempre se reúne às quartas-feiras, decidiu realizar sessão extraordinária.
Competência
Foi decidido que a competência para julgar autoridades em posição de comando no Estado é das câmaras criminais do tribunal.
Com essa decisão, o TJ paraense avocou uma decisão que o promotor julgava ser da competência do auditor militar Alfredo Henrique Lima Santalice. Gilberto Martins recorreu ao Tribunal de Justiça.
A solução agradou ao procurador-geral. Não afastou o promotor, por falta de apoio no Conselho Superior do Ministério Público, mas assegurou que a decisão para os coronéis será tomada pelos desembargadores paraenses.
O promotor decidiu pedir a prisão preventiva do comandante-geral da PM e do coronel Pantoja por entender que o afastamento dos dois é crucial para o bom andamento da investigação.
O coronel Pantoja já se encontra em prisão domiciliar, uma medida administrativa. O coronel Fabiano José Diniz Lopes não foi afastado de suas funções pelo governador do Estado.
Neste momento da investigação, segundo o promotor Gilberto Martins, é fundamental que ambos sejam "privados de sua liberdade, até por envolvimento direto quanto ao fato".

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