São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
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Sob vaia

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

- O presidente foi vaiado, foi vaiado feio.
Foi na Bahia, no palanque, com ACM. A administração FHC virou o fio.
Vai precisar de muita conversa para reverter a imagem deixada pelo "massacre", pela "chacina", "tragédia" -no vocabulário já sem sentido dos telejornais.
Ontem, ele bem que tentou, acuado, "nervoso, irritado", mal sendo ouvido. Mal fazendo sentido, confundindo os temas, sob vaia:
- ... e somos até tolerantes para com um pequeno punhado de gente que, coitados, não sabem o que falam... nós queremos, sim, um Brasil onde a terra seja dada a quem nela vá trabalhar, mas não a quem nela vá agitar... não àqueles que querem explorar a tragédia de uns poucos em benefício de grupos políticos... não está na hora de nos dividirmos, não está na hora de explorar cadáver... está na hora, sim, de todos assumirem a responsabilidade... em vez de aproveitar para botar culpa em quem não tem, assumamos todos a culpa de não termos sabido conversar... viva o Brasil!
Foi excessivo. Patético. Uma epifania retórica.
(No mundo real, em Brasília, FHC discutiu depois, com Sarney e outros, a criação de um Ministério Extraordinário da Reforma Agrária, para ajudar aquela outra reforma -aquele vexame cotidiano-, a ministerial.)
Passam os dias e a questão maior, como percebeu o vaiado FHC, é ainda a responsabilidade, a culpa.
O Executivo pediu a reunião com Legislativo e Judiciário, aliás, para dizer que não é só dele, a culpa.
E a Globo tratou de ajudar, em chamada:
- Por que é que a reforma agrária não anda? O Jornal Nacional mostra o exemplo da fazenda que virou modelo de reforma agrária, e agora teve a desapropriação cancelada pela Justiça.
Agora é da Justiça.

E-mail nelsonsa@folha.com.br

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