São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
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Igreja faz missas de 7º dia por sem-terra

JOSÉ ALBERTO BOMBIG

JOSÉ ALBERTO BOMBIG; LUIS HENRIQUE AMARAL
DA FOLHA SUDESTE

Bispo chora ao falar sobre sua viagem à região do conflito e diz que PM fez 'massacre seletivo' dos trabalhadores

LUIS HENRIQUE AMARAL
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) decidiu solicitar a todas as igrejas do país a realização, amanhã, de missas de sétimo dia pela morte dos sem-terra em Eldorado dos Carajás (PA).
Ontem, a Arquidiocese de São Paulo anunciou que realizará sua missa, na catedral da Sé, às 18h desta quarta-feira.
Na manhã de ontem, um dos líderes do MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), João Pedro Stedile, esteve em Itaici, distrito de Indaiatuba (110 km a noroeste de São Paulo), onde a CNBB realiza sua 34ª Assembléia Geral. Stedile foi discutir estratégias de ação conjunta entre sua entidade e a CNBB.
O arcebispo de Campinas, d. Gilberto Pereira Lopes, colocou ontem a catedral da cidade à disposição da CNBB para a celebração de uma missa com a presença dos cerca de 280 bispos que participam da assembléia.
Campinas (99 km a noroeste de São Paulo) fica a apenas 27 quilômetros de Indaiatuba.
Segundo d. Gilberto, a diocese campineira deverá realizar atos de protesto contra o massacre.
O arcebispo de Campinas deverá oficializar hoje no plenário da assembléia a proposta.
'Massacre seletivo'
O bispo Luiz Demétrio Valentini, responsável pelo setor de ação social da CNBB, chorou ontem ao falar sobre sua viagem ao local do massacre dos sem-terra.
Valentini voltou anteontem para Indaiatuba. Ele foi ao Pará para representar a entidade.
Segundo o bispo, a PM do Pará realizou um "massacre seletivo" dos sem-terra. "Os policiais mandavam as mulheres e crianças se abaixarem e escolhiam os homens para atirar. Os líderes foram os mais visados", diz.
Para o bispo, se a polícia pôde evitar a morte das mulheres e crianças, poderia também evitar o assassinato dos homens.
Ele começou a chorar quando ia descrever sua chegada ao local do massacre. Após alguns segundos em silêncio, com os olhos cheios de lágrimas, disse: "Os sem-terra estavam famintos, são um povo simples, pobre e ingênuo, não dá para entender como a polícia agiu com tanta violência".

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