São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasileiros vão a reunião sobre trabalho infantil pela 1ª vez

Rodrigo, 17, e Marcela, 14, devem viajar à Índia

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Dois adolescentes mineiros foram escolhidos para representar o Brasil no Festival de Crianças Trabalhadoras, que começa quinta-feira em Bangalore, sul da Índia.
Eles são Rodrigo Vieira, 17, e Marcela Luiza Arcanjo Pereira, 14. Segundo o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, é a primeira vez que o Brasil participa do evento, que acontece anualmente na Índia.
O convite partiu do Grupo Internacional de Trabalho Infantil, entidade com sede na Holanda.
Os dois adolescentes disseram que pretendem falar sobre as condições de trabalho e os baixos salários das crianças no Brasil.
Eles participam também do Dia Nacional do Trabalho Infantil, no próximo dia 30, e de 2 a 5 de maio, da reunião preparatória para a 1ª Conferência Mundial de Crianças Trabalhadoras, que deve acontecer no Senegal, em outubro.
Morando numa favela da zona leste de Belo Horizonte, Marcela começou a trabalhar aos 12 anos como empregada doméstica, para continuar estudando. Ela ganhava meio salário mínimo. "Lá em casa são seis irmãos, e nem meu pai nem minha mãe davam conta de comprar os livros para nós."
Marcela acabou sendo despedida porque faltava no emprego. Ela afirma que era impedida de trabalhar por causa de uma dor nas costas, que seria causada pelos móveis pesados que tinha de carregar.
No momento, Marcela está fazendo um curso de costura para adolescentes carentes.
Ex-menino de rua, Rodrigo começou a trabalhar aos 14 anos para um dono de banca que lhe entregava jornais para vender nos faróis de Belo Horizonte. "Antes, eu pedia dinheiro para as pessoas, furtava algumas coisa, um relógio."
Atualmente, Rodrigo ganha R$ 120 por mês como office-boy em repartição do governo de Minas.
"O que eu ganhava num dia como jornaleiro dava para comprar cinco pãezinhos e pagar a passagem de ônibus de volta para casa."
Os dois correm o risco de não viajar porque a Embaixada da Índia em Brasília não forneceu o visto. A embaixada afirma que é só "uma questão burocrática", mas diz que o convite para o encontro deveria ter partido da Índia, não de um grupo internacional.

Texto Anterior: Surdo-mudo deportado ganha novo nome no Rio
Próximo Texto: Assassinatos sobem 18,9% em SP no último fim-de-semana
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.