São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
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Navios ameaçam viagem ao sul

IGOR GIELOW
DO ENVIADO ESPECIAL

A explosão de uma peça de artilharia naval israelense parece um trovão. Não há tempo para ver o projétil chegando ou zunindo, como nos filmes. O que acontece é um tipo de apito agudo e rápido seguido pela explosão.
Quando não atingem nenhum alvo, os disparos deixam uma nuvem de fumaça marrom. Olhando para o Mediterrâneo, é possível ver navios manobrando.
A Folha presenciou, a cerca de 1 km, duas explosões ontem no vilarejo de Makhfar el Borj, cerca de 15 km ao norte de Sidon.
Estrada
Os ataques no Líbano criaram o que deve ser uma das rotas mais perigosas em atividade hoje no mundo, a estrada Beirute-Sidon.
No fim-de-semana, cerca de 50 disparos de navios a menos de 5 km da costa atingiram a via, ferindo pelo menos quatro pessoas.
O saldo de ontem foi mais trágico. Um taxista morreu e outra pessoa ficou ferida em ataques da Marinha israelense contra a estrada.
Ontem pela manhã, a Folha tentou chegar a Sidon, 82 km ao sul da capital, segundo maior porto do país (depois de Beirute).
A viagem começa por dentro de vilas adjacentes a Beirute. De lá, percorrem-se cerca de 20 km até Khalde, uma pequena vila.
Lá existia, ontem, um posto do Exército do Líbano que faz uma triagem. Ambulâncias, caminhões com ajuda humanitária e imprensa têm preferência para passar.
Em Damour, 15 km adiante, há marcas de bombas na lateral da pista. No horizonte, a inexistência de navios de guerra dá sinal verde para a viagem seguir.
Cidade-fantasma
A Folha havia visitado Jadra no sábado e viu um vilarejo ativo, com ruas movimentadas. Ontem, parecia uma cidade-fantasma.
"Todos estão com medo. Ninguém sai da cidade", disse Hasnar Fherm, dono de uma das poucas lojas abertas.
Em Makhfar El Borj, um pequeno congestionamento apontava a existência de problemas.
Pegando um atalho, o carro da reportagem chegou a uma barreira, onde soldados colocaram sacos de areia junto a um muro de cimento no lado da cancela da estrada. De lá, a reportagem acompanhou as explosões e foi informada de que não daria para continuar. A viagem, que deveria durar duas horas e meia, acabou 40 minutos antes.
(IG)

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