São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
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DESENCANTO

As Bolsas brasileiras andaram na rabeira dos mercados latino-americanos nos últimos dias. Embora a dimensão do mercado brasileiro deixe a desejar, sendo vítima frequente de especuladores e tendo os negócios concentrados em poucos papéis de empresas públicas, na prática ele funciona como um termômetro bastante sensível das expectativas que não pode ser ignorado.
Aliás, talvez até mesmo por terem dimensões pouco significativas diante do conjunto da economia brasileira, as Bolsas aqui refletem com razoável sensibilidade os movimentos de entrada e saída de capitais estrangeiros. E nas últimas semanas as notícias têm sido predominantemente de saída, notando-se um incômodo desinteresse pelo mercado local.
Se as reformas andam em compasso mais lento, fica igualmente mais morosa a redução das taxas de juros. Afinal, reformas de menos é igual a déficit demais no setor público. E para financiar esse déficit os juros permanecem em patamares elevados.
É o que basta para asfixiar as Bolsas, mercados de renda variável que não têm como competir com a renda fixa pela atenção dos investidores.
Mas os juros altos não são apenas um abafador em virtude das decisões dos poupadores. Juros altos e crescimento econômico baixo significam também desempenho medíocre das empresas listadas em Bolsa. Com distribuição rarefeita de dividendos, o mercado continua raquítico, novas emissões de papéis são adiadas e acaba reforçado o círculo vicioso da concentração dos negócios em poucos papéis de empresas estatais.
Entretanto, com ou sem reformas constitucionais, o "animus" das Bolsas depende muito do que se espera em relação ao programa de privatização. O desencanto nesse caso também é inegável, frente aos adiamentos ou às declarações muitas vezes desencontradas das várias autoridades hoje envolvidas com a desestatização da economia brasileira.
Sejam quais forem as deficiências desse mercado, aos poucos talvez esteja se instalando uma percepção mais desencantada do tão esperado "processo" de reformas da economia brasileira.

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