São Paulo, quarta-feira, 24 de abril de 1996
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Amistoso marca o início de uma nova história

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Eis um jogo bem bolado, esse Brasil e África do Sul. Pois, se no passado as seleções do Leste Europeu eram as potências olímpicas no futebol, em Atlanta a história começará a inscrever novos personagens: os times da África Negra, além de nós aqui do Cone Sul.
Explica-se: enquanto os europeus abrem mão do direito de incluir três jogadores acima de 23 anos de idade nos próximos Jogos Olímpicos, os gatos africanos estão à solta.
Além do mais, o futebol africano sofreu um impulso muito grande a partir dos anos 80, como consequência da política de expansão do presidente da Fifa, João Havelange.
Para se eternizar no poder, Havelange abriu vagas e mais vagas nas Copas do Mundo a africanos, asiáticos e centro-americanos.
Resultado: os africanos, em uma década, não só cresceram em seus domínios como passaram a se espalhar pela Europa inteira, sobretudo na loira Europa dos escandinavos, anglo-saxões, teutônicos, francos e flamengos.
Com isso, ganharam experiência e disciplina tática, em pouco tempo, embora, por temperamento ou o que seja, ainda sejam muito vulneráveis defensivamente.
E esse é o grande trunfo de Zagallo para o jogo de hoje, principalmente porque terá um ataque solerte e lépido, com Bebeto e Sávio recebendo o suporte de Jamelli e Rivaldo, mais o apoio dos laterais Zé Maria e Zé Roberto. (Se o juiz for decente, prevejo uns dois gols brasileiros de pênalti).
Contudo, eles também são rápidos e espertos nos contragolpes, que, se desembocarem em Alexandre Lopes, sei não.
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Hoje, o número 1, no esquema de Zagallo, será Jamelli, em substituição a Juninho.
Trata-se de um bom jogador, dedicado, dono de um lote de virtudes técnicas do tamanho, digamos, de uma residência de classe média, B, digna mas sem ostentações.
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Tóprocê!, se pensa que vou cair na besteira de repetir o que disse sobre Romário, nos tempos eliminatórios pré-Uruguai. Na época, como Zagallo e Parreira, considerava-o dispensável.
No campo, Romário provou ser absolutamente indispensável. Mais que isso: insubstituível e incomparável, a não ser com Maradona e Garrincha, únicos jogadores que, antes dele, ganharam sozinhos uma Copa do Mundo.
Se Romário está mesmo a fim de ganhar um mínimo de condições físicas e atléticas para disputar a Olimpíada, a vaga deverá ser dele.
E, pra quem não suporta aquele arzinho de superioridade pendurada nas pálpebras semi-cerradas, dou uma sugestão: baixe os olhos e fixe suas atenções nos pés do craque. Ali se desenha o gol, nas suas mais infinitas formas.
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O São Paulo celebra o fato de ter uma semana inteira para armar-se com vistas ao clássico. O diabo é que o Palmeiras também. Como dizia Billy Blanco no velho samba, o que dá pra rir dá pra chorar.
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O pior é que o Corinthians nem pode mais sonhar com a volta de Viola. O bicho parece ter gostado da Espanha. Um amor, pelo jeito, que começa a ser correspondido.

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