São Paulo, quarta-feira, 24 de abril de 1996
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Jiri Kylian dirige bailarinos quarentões em São Paulo

Coreógrafo traz a Nederlands Dance Theatre 3 ao Municipal

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O theco Jiri Kylian, um dos coreógrafos mais importantes deste século, fundou em 1991 o Nederlands Dance Theatre 3, que se apresentará no Teatro Municipal de São Paulo no dia 2 de maio.
Formada por bailarinos com mais de 40 anos, o NDT 3 integra hoje uma instituição artística holandesa que, além da companhia número 1, possui também a 2, com bailarinos entre 17 e 20 anos.
Leia trechos da entrevista de Kylian à Folha, por telefone.
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Folha - Por que você decidiu criar o Nederlands Dance Theatre 3?
Jiri Kylian - Esta decisão surgiu após 20 anos de experiência como diretor do NDT 1. Ao longo deste tempo, o elenco do Nederlands contou com bailarinos maravilhosos que, num certo momento, se confrontaram com a situação de terem que ser substituídos por outros mais jovens.
Era muito difícil para mim dizer adeus a estes fantásticos bailarinos. Daí, percebendo que seria possível criar um repertório específico para intérpretes maduros, fundei o NDT 3.
Folha - O que o bailarino com mais de 40 anos tem de especial?
Kylian - São bailarinos que acumularam uma experiência e um conhecimento que os mais jovens não têm. Também têm uma personalidade mais evoluída e, em minha opinião, é uma catástrofe descartar intérpretes tão ricos simplesmente porque chegaram aos 40 anos.
O problema é que, até então, grandes bailarinas, após uma certa idade, insistiam em interpretar papéis de meninas de 15 anos em balés como "Romeu e Julieta". No NDT 3, ao contrário, temos intérpretes aproveitando o que têm de melhor agora.
Folha - Musicalidade é um dos pontos fortes de suas coreografias. Como você escolhe as músicas?
Kylian - Me formei no Conservatório de Praga, onde para se tornar bailarino é preciso estudar música, sua história e mesmo aprender a tocar um instrumento, e eu escolhi o piano.
Costumo me cercar de amigos e entre os mais próximos que já colaboraram comigo estão grandes nomes da música do século 20, como Luciano Berio, Toru Takemitsu, que infelizmente morreu recentemente, e o norueguês Arne Nordhein.
Folha - Como você relaciona dança e música em suas coreografias?
Kylian - Conceber movimentos de acordo com a música é uma maneira ultrapassada de coreografar. Nunca segui este caminho, pois em geral sempre trabalhei dança e música como expressões que acontecem simultaneamente.
Folha - Uma de suas coreografias mais famosas, "Stamping Ground", se inspira nos aborígenes australianos. Como foi a experiência com este povo?
Kylian - Convivi com os aborígenes durante um festival na Austrália. Durante esta experiência percebi que se não há dança não há vida para eles. Este povo nômade, que não tem nem casas, só possui sua dança, suas canções e suas lendas.

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