São Paulo, quarta-feira, 24 de abril de 1996
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Israel bombardeia 2 represas libanesas

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE

Israel bombardeou ontem duas represas ao norte de Tiro (sul do Líbano), no 13º dia da ofensiva contra posições do Hizbollah (Partido de Deus).
Cerca de 25 vilarejos, ainda não desocupados pela guerra na região, são abastecidos pelas represas. O governo não soube informar quantos seriam atingidos pelo corte de abastecimento.
O Ministério da Informação disse à Folha que ainda não estava clara a localização exata do ataque.
Beirute também ficou ontem sem comunicação física com o sul do país. Depois do total isolamento da rodovia que faz margem ao Mediterrâneo, Israel destruiu em vários pontos duas vias secundárias que serviam de opção para atingir Sidon (82 km de Beirute).
Até anteontem, essas rodovias não tinham sido atacadas.
A Marinha israelense atirou cerca de 40 obuses contra a costa libanesa, ferindo quatro pessoas, uma delas com gravidade. A região de Nabatieh também foi atacada.
Ontem, durante a madrugada e a manhã, o Hizbollah disparou cerca de 20 Katiuchas contra o norte de Israel. Kiryat Shmona, quase deserta com os ataques, foi atingida de novo. Não houve vítimas.
Líderes políticos libaneses desconfiam que Israel esteja tentando minar o processo de reconstrução do país, e não atingir o Hizbollah.
"Eles acertaram uma das subestações de energia. Estão destruindo estradas e acabaram com cidades como Nabatieh. Isso para não falar nos mortos inocentes. Onde estão os alvos militares?", diz o deputado maronita Nassib Lahoud.
Ele é dono da Lahoud Engineering Company, uma das três maiores construtoras do Líbano e parceira de europeus e norte-americanos em projetos de reconstrução. Para ele, o Líbano propriamente pode não ser o alvo, e sim a Síria.
Segundo estimativa do governo, o verão deste ano deveria atrair cerca de US$ 1 bilhão em turismo. "Agora não sabemos o que vai ser", diz o libanês-brasileiro Abdo Mourabe, ministro de Formação Vocacional.
Diplomacia
A negociação de uma trégua no Líbano foi dificultada ontem, depois que o presidente sírio, Hafez al Assad, recusou-se a receber o secretário de Estado dos EUA, Warren Christopher, em Damasco.
Christopher levaria a Assad observações de Israel sobre a proposta de trégua dos EUA.
A recusa da Síria em negociar indica a insatisfação com o fato de os EUA desejarem o cessar-fogo agora, deixando para depois os problemas de segurança na fronteira e, principalmente, a eventual retirada israelense do sul do Líbano.
Autoridades da Síria disseram que Al Assad "não estava disponível" por causa da visita da primeira-ministra do Paquistão, Benazir Bhutto, à Síria.
Christopher voltou para Jerusalém à noite. A intenção inicial era ir para Beirute, mas a viagem foi suspensa por razões de segurança.

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