São Paulo, quarta-feira, 24 de abril de 1996
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Mercosul fez ameaça a general

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O Paraguai seria imediatamente suspenso do Mercosul, o acordo entre esse país e Argentina, Brasil e Uruguai, se houvesse um golpe militar.
O recado foi transmitido por meios indiretos ao general Lino Oviedo, o comandante do Exército que se rebelou contra a decisão do presidente Juan Carlos Wasmosy de destituí-lo da chefia da força terrestre.
Ontem, os chanceleres dos três sócios paraguaios no Mercosul viajaram para Assunção, a fim de reforçar a mensagem com suas presenças físicas. São o argentino Guido di Tella, o uruguaio Álvaro Ramos e o brasileiro Sebastião do Rego Barros (interino, em função de viagem do titular, Luiz Felipe Lampreia).
A suspensão do Mercosul não seria a única punição ao Paraguai, na hipótese de a ameaça golpista prosperar. O governo brasileiro estudou a hipótese de fechar os portos brasileiros (Santos e Paranaguá) pelos quais o Paraguai escoa a sua produção.
Fechar a ponte
Até a Ponte da Amizade, que liga os municípios de Foz do Iguaçu, no Brasil, e Ciudad del Leste (Paraguai), poderia ser bloqueada.
A reação dos países do Mercosul tem também um ângulo não-declarado pelas respectivas chancelarias, mas obtido pela Folha: impedir que os Estados Unidos continuassem comandando a resistência à ruptura institucional.
A Embaixada norte-americana em Assunção foi a primeira a reagir à rebelião do general Oviedo, no final da tarde de anteontem.
Nota da Casa Branca dizia que qualquer violação à Constituição seria "totalmente inaceitável".
Só horas depois é que o Itamaraty emitiu o seu próprio comunicado, em termos semelhantes: "Qualquer alteração da ordem constituída terá como resposta o desacordo do governo brasileiro".
O chanceler interino, Sebastião do Rego Barros, disse à Folha, pouco antes de viajar para Assunção, que temia "efeitos muito negativos para toda a região", na hipótese de se romper a ordem institucional no Paraguai.
Ele respondeu com um "certamente" quando a Folha quis saber se a suspensão do Mercosul figurava entre as medidas de retaliação.
Apoio brasileiro
O governo brasileiro, em todo o caso, toma cuidado para deixar claro que o respaldo é à institucionalidade, não pessoalmente ao presidente Wasmosy.
Explica-se: Wasmosy enfrenta grave crise política grave. Comprometer-se demais com ele é um risco excessivo, portanto.
Ainda mais que o governo brasileiro (o anterior, de Itamar Franco) envolveu-se pesadamente na campanha de Wasmosy (1993).
Antes mesmo de o atual presidente ser entronizado candidato pelo Partido Colorado, a diplomacia brasileira ajudou-o na disputa interna contra Luiz Maria Argaña, um ex-chanceler da ditadura Alfredo Stroessner (1954-89).
Motivo: Argaña é tido como pró-Argentina, no eterno pêndulo que o Paraguai pratica entre seus dois poderosos vizinhos.
Depois que Wasmosy se tornou candidato, o governo brasileiro "ajudou-o a eleger-se de todas as formas que você possa imaginar", ouviu ontem a Folha junto aos homens que comandaram a campanha de Wasmosy.
(CR)

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