São Paulo, sexta-feira, 26 de abril de 1996
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Bryan Singer faz suspense à antiga

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Aprendiz bem-sucedido da meconseguiu com "Os Suspeitos" duas façanhas. O status -medido em termos de bilheteria- de "o grande filme independente do ano" e a aprovação de seu talento pela crítica.
Nos EUA, o filme arrecadou US$ 30 milhões. Depois dos dois Oscar ganhos -melhor ator coadjuvante e melhor roteiro original- voltou a se destacar entre os mais vistos da América.
No Brasil, onde está em cartaz há uma semana, "Os Suspeitos" já é tido como a Sua eficácia parece pertencer, como disse em entrevista por telefone à Folha, à idéia comum de que "nada é exatamente o que aparenta ser".
Trabalhando atualmente na adaptação de um romance do escritor Stephen King, Singer falou ainda sobre o atual estado do cinema independente na América. E a necessidade do segredo para a eficiência da trama de seus filmes. Leia abaixo trechos da entrevista.
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Folha - Você acredita ser essencial para o filme o segredo em torno do culpado? O filme se sustenta apenas nesse truque?
Bryan Singer- Acho que o segredo apenas faz o filme mais divertido, porque para muitas pessoas há o prazer da descoberta no final da história. Não penso que isso seja central para "Os Suspeitos". O fato é que muitas pessoas, mesmo sabendo quem é Kyser Soser, procuram rever o filme, tentando explorar os detalhes que passaram despercebidos.
Folha - A Folha revelou um dia antes da estréia a identidade de Kyser Soser.
Bryan Singer- Qual a razão de fazer isso? Qual é o motivo? Meu filme é um suspense, o que significa dar ao espectador a chance de uma surpresa.
Folha - Qual o tema central de seu filme?
Singer - A idéia que move o filme é que "as coisas nunca são o que parecem ser". Se você procura um tema, essa é a resposta.
Folha - "Os Suspeitos" usa muitos clichês dos filmes de mistério. Você se sente próximo da nova onda dos filmes "noir" ou se apega ao trabalho dos antigos diretores?
Singer - Os antigos, com toda a certeza. Diretores como Henri-Georges Clouzot e Akira Kurosawa de "Rashomon". Sempre penso meu trabalho como uma espécie de "Kurosawa encontra Clouzot".
Folha - E sua filiação ao "cinema independente americano?
Singer - Acho que pertenço a esse movimento no sentido em que desejo realizar um filme com o máximo de liberdade criativa e o mínimo de gastos. Filmei "Os Suspeitos" com pouco dinheiro, e não acredito que esse fator -o econômico- seja decisivo para que se possa produzir um filme de sucesso. A maioria das produções hoje em Hollywood gasta em média US$ 20 milhões. Meu filme custou US$ 6,5 milhões. Foi realizado em 25 dias.
Folha - A distribuição ainda é um problema para o realizador independente?
Singer - Uma estranha combinação me possibilita a liberdade para filmar. Meus finaciadores fazem parte da cena independente, mas a distribuição é feita por um grande estúdio, a Paramount. Eu tenho toda a liberdade e controle sobre o filme, o corte final de cada cena. E ao mesmo tempo tenho toda a força de um estúdio para a distribuição. O que acho ser a melhor maneira de preservar a liberdade. Uma opção melhor do que fazer filmes diretamente para os grandes estúdios.

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