São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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Aluno na escola dá salário para famílias

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O dia dez de cada mês é sagrado na casa de Maria José de Araújo Gomes, mãe de oito filhos e desempregada como o marido, conhecido como "Jacaré", na cidade satélite do Paranoá, a 20 km de Brasília.
Nesse dia ela passa no banco para sacar R$ 100 da bolsa-escola. Só recebe o dinheiro se os seis filhos na faixa entre 7 e 14 anos tiverem frequentado, pelo menos, 90% das aulas do mês anterior.
O programa, posto em prática há um ano em cidades satélites do Distrito Federal, exibe resultados animadores. Oito entre dez alunos bolsistas foram aprovados e o índice de abandono da escola despencou para 0,2% -um número trinta vezes menor que a evasão registrada em 1994 em Brasília.
A bolsa-escola paga atualmente um salário mínimo a 14.786 famílias de sete cidades satélites, todas elas com renda mensal inferior a R$ 50 por pessoa. A comprovação da baixa renda é a primeira exigência do programa, além de residência comprovada em Brasília nos últimos cinco anos.
Não custa caro, calcula o governador Cristovam Buarque: 0,6% do Orçamento do governo do Distrito Federal. Três meses de pagamento da bolsa-escola equivalem a um dia de juros que o Banespa paga para financiar sua dívida.
O Orçamento deste ano reserva R$ 21,4 milhões para o programa, que em breve poderá atingir mais 5.000 famílias.
Sala de aula
Além de ajudar a manter as famílias, o programa garante, na atual fase, a presença de 28.672 estudantes nas salas de aula. Se o aluno tiver mais de duas faltas durante um determinado mês, a bolsa da família é suspensa até que a frequência seja restabelecida.
O mecanismo é uma pequena revolução. "Nesse horário que vão para a escola, antes eles fugiam para engraxar sapato ou guardar carro na rua", diz Maria José de Araújo Gomes, 36 anos e nenhum dente na boca.
Maria José largou o trabalho como diarista. Fica em casa e cuida dos filhos. Com a próxima parcela da bolsa, paga nos 12 meses do ano, ela já planeja comprar camas para os meninos -que hoje dormem no chão.
"Agora eles são mais responsáveis", diz.
"As crianças que antes abandonavam a escola para pegar dinheiro na rua, tomar conta de carro, começaram a frequentar a aula", afirma Zaíra Leite Ramos, diretora da escola classe nº 2.
Zaíra observa uma espécie de reação em cadeia instantânea nos meninos do Paranoá.
Como frequentam mais as aulas, as crianças passaram a apresentar um rendimento melhor, têm mais chances de ser aprovadas, se julgam mais capazes de aprender e seguir adiante.
O governo do Distrito Federal aposta, com o tempo, em aumentar o nível de escolaridade em Brasília e até reduzir o nível de desemprego, provocado, em parte, pela falta de capacitação para o trabalho.
O programa da bolsa-escola também exige a inscrição dos pais desempregados e autônomos nos programas oficiais de emprego. Na maioria semi-analfabetos, os pais enfrentam dificuldade para entrar no mercado.

Poupança-escola Além da bolsa-escola, Cristovam Buarque adotou a poupança-escola. O governo deposita num fundo R$ 100 para cada criança que passar de ano.
Parte do dinheiro (50%) pode ser sacada ao final da quarta série, outra parte (50%) ao final da oitava.
Se o aluno chegar ao final do segundo grau, retira todo o dinheiro com juros e correção da caderneta de poupança.
Em dezembro, 9.652 alunos do total de 12.095 beneficiados com a bolsa-escola foram aprovados e contemplados com a poupança.

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