São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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Famílias não têm nem dinheiro do ônibus

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A maioria (86%) das famílias atendidas pela bolsa-escola na cidade do Paranoá não tem renda suficiente para pagar uma passagem de ida e volta (R$ 1,40) por dia ao Plano Piloto, centro da capital, distante apenas 20 quilômetros.
A renda é baixa. Altos são a mortalidade, a criminalidade, o analfabetismo e o desemprego na cidade escolhida para iniciar o programa da bolsa no Distrito Federal.
Lá morrem 29,4 crianças entre mil nascidas. Quase 80% dos moradores mal sabem ler e escrever.
A metade da população economicamente ativa está sem emprego. Quem trabalha, costuma prestar serviços domésticos, sobrevive de "bico" na construção civil ou trabalha no comércio.
Nascida de um acampamento das obras da barragem do Lago Paranoá, o lugar já foi a maior favela do Distrito Federal e reduto eleitoral do ex-presidente Fernando Collor, na eleição de 1990. Muitas casas ainda são de placas de compensado, com teto de zinco, embora a maioria tenha televisão em cores.
Um documento do governo do Distrito Federal observa ainda outra característica nos moradores do lugar: auto-estima em baixa.
Vale a palavra
Aferir a renda das famílias do Paranoá foi a primeira dificuldade enfrentada enfrentados pelos técnicos responsáveis pelo programa. Cada requerente passa por uma entrevista detalhada e longa, que dura, em média, 20 minutos.
Como a maioria não tem carteira assinada nem documentos para provar a renda, o programa se baseia no que os requerentes dizem.
O dinheiro da bolsa-escola fez aumentar o consumo de pão e leite em Paranoá, constata o comerciante Waldemar Guimarães: "As compras cresceram uns 20%".
No dia 10 de cada mês, Maria de Fátima Monteiro, reserva R$ 1 de presente para o filho Romerito, de 11 anos, aluno da terceira série. Afinal, diz ela, é a presença assídua de Romerito na escola que garante o dinheiro que ajuda a manter os outros três irmãos.
Romerito adora as aulas de Ciências. Além da vista paronâmica de Brasília que acompanha de Paranoá, o menino tenta agora enxergar os planetas, cuja existência descobriu nas aulas. Quando crescer, quer ser bombeiro.

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