São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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Projeto municipal já atende a 2.267 famílias em Campinas

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS

Campinas foi o primeiro município brasileiro a instituir um programa de renda mínima. Os primeiros cheques foram distribuídos em março do ano passado e hoje eles beneficiam 2.267 famílias.
Não é o suficiente. Pelos dados do Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), existiam em outubro 18 mil famílias em extremo estado de carência.
Segundo a prefeitura, administrada pelo PSDB, a lei municipal que instituiu o programa não procurou acabar com toda a miséria, mas, simplesmente -o que já seria uma operação de fôlego-, neutralizar dois de seus efeitos: a subnutrição e os meninos de rua.
Sobre a desnutrição não há nenhum estudo preciso. Sabe-se que, em questionário que permitiu respostas múltiplas, 86% dos entrevistados disseram estar gastando em alimentação o reforço ao orçamento familiar.
Seguem-se gastos com vestuário (50%), eletrodomésticos (39%), habitação (38%), pagamento de dívidas (33%) e saúde (27%).
Os dados foram obtidos pela prefeitura no final do ano passado. Entre o que investiram nos eletrodomésticos, 17% o fizeram com o propósito de geração de renda. É o caso do freezer para as mulheres que comercializam salgadinhos.
A Secretaria da Ação Social diz serem mais sensíveis os efeitos da renda mínima quando se trata das crianças que deixaram a rua e passaram a dividir o tempo entre suas casas e a escola. Segundo dados da prefeitura, entre as famílias que recebem uma complementação de renda, o número de crianças na escola passou de 82% a 87%.
"Havia cerca de 550 crianças de rua no centro no começo do ano passado. Hoje, são menos de 80", diz Dulce de Paula Souza, do Departamento de Apoio à Família.
Ela diz que, pela lei, a prefeitura só pode comprometer com o programa 1% do que arrecada.
Daria neste ano R$ 4,5 milhões, dos quais provavelmente só se utilizará a metade, porque o cadastramento é cauteloso e precisa de duplas de funcionários que façam o acompanhamento. Essas duplas -uma psicóloga e uma assistente social- eram oito há um ano e chegarão a 20 em setembro.
São elas que contatam os beneficiários e promovem reuniões mensais com grupos de não mais que 15 chefes de família, durante as quais são entregues os cheques -de R$ 5,00 a R$ 385,00- e se discute determinado tema.
Reunião
Terça-feira desta semana, 15h, bairro dos Campos Elíseos, subúrbio de Campinas. A dupla de funcionárias chega a um salão paroquial. São 13 as mulheres presentes. Elas pediram uma discussão sobre planejamento familiar.
No grupo, duas mães já têm oito filhos, e uma terceira está grávida do sétimo. As funcionárias da prefeitura exibem cartolinas com desenhos sobre reprodução e métodos anticoncepcionais.
Ela tem três filhos pequenos e, como única renda mensal, os R$ 70,00 que fatura num botequim feito de pranchas de madeira.
"Não dá nem para pagar a luz, e carne, só uma vez por mês."

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