São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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Casais vivem juntos em casas separadas

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A empresária Adriana Caruso, 40, gosta de ver TV até de madrugada, fuma no quarto onde dorme e acorda tarde. O marido dela, o administrador de empresas Antônio Augusto Orcesi da Costa, 43, costuma acordar às 6h15, pratica esportes e detesta cigarros.
Na terça-feira passada, Antônio deixou Adriana vendo TV e foi dormir na casa da mãe. Ele tem feito isso há quatro anos. Morar em casas separadas foi a solução que Antônio e Adriana encontraram, depois de nove meses vivendo juntos, para continuar casados.
"Pensei que o casamento tinha acabado, mas estava só começando", diz Adriana, que afirma viver muito melhor agora. "Nós nos gostávamos muito, mas os problemas domésticos estavam destruindo nosso relacionamento."
Antônio mora no Alto de Pinheiros (zona oeste) e Adriana na Vila Nova Conceição (zona sul). Eles se vêem praticamente todos os dias, mas não é obrigatório. "A vantagem é que quando a gente está junto, é porque quer estar junto", diz.
Os dois têm filhos dos casamentos anteriores, e esse foi um dos motivos da "separação". "Essa história de juntar os meus, os teus e os nossos dá certo no cinema", acredita Adriana (leia ao lado).
Sem casamentos anteriores, filhos ou hábitos diferentes, a marchand Ana Baravelli, 26, e o marido dela, um arquiteto dois anos mais velho, resolveram alugar apartamentos separados há um mês, depois de três anos morando na mesma casa.
"Vivíamos muito bem juntos, mas nós dois trabalhávamos em casa e acabamos misturando as coisas", diz Ana. "Era muito complicado organizar o movimento."
Socialmente, a nova composição causa estranheza. "Meus amigos riem. Dizem que a gente fez o caminho contrário: fomos casados, agora moramos separados, o próximo passo é namorar e por fim só andar de mãos dadas", diz.
Ana afirma que uma das vantagens de morar em casas separadas é não ter que aguentar amigos só dele. "Quando você casa com alguém, não é obrigado a adotar toda a turma do outro", diz.
Os dois chegam a ficar até três dias sem se ver e, segundo Ana, isso é muito saudável. "Dá até saudade do próprio marido", diz.
Isso não significa que, quando um precisa, o outro não possa se mudar temporariamente. "Fiquei gripada na semana passada e ele passou uns dias aqui cuidando de mim", diz."Foi um anjo."
Uma gripe forte, há dez anos, fez Cecília de Renzis, 42, se mudar do quarto onde dormia com o marido, o artista plástico Franco de Renzis, para outro na mesma casa. "Nunca mais voltei", diz.
Os dois construíram outra casa, no mesmo terreno, já com um quarto para cada um. "Quando se dorme junto, é complicado até matar um pernilongo", diz.
A parte sexual de quem dorme em quartos separados é definida por Cecília como "coisa de adolescente". "A gente se encontra no corredor e convida para entrar. É muito divertido", diz.
Morar no apartamento vizinho ao do companheiro foi a saída que a carioca Adriana Almeida, 27, encontrou para "casar aos poucos". "Vir do Rio direto para a casa dele seria muito radical."
O casal mora perto e longe ao mesmo tempo. "Ele comprou o apartamento do lado, derrubou a parede divisória e colocou uma porta de correr. Quando a gente não quer se ver, fecha a porta", diz.
Adriana já tinha sido casada e afirma que na época não estava preparada para a experiência. "Preciso de um período de adaptação. Desta vez, não corro risco de viver tudo em seis meses".

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