São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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FHC, apupo e aplauso

ALOIZIO MERCADANTE

O presidente Fernando Henrique Cardoso está com dificuldades de sair na rua.
De um lado, o governo foi comprometendo parte de seu capital político ao tentar abafar sucessivos escândalos, como os casos Sivam, pasta rosa e da CPI para apurar as falcatruas nos bancos Econômico e Nacional generosamente socorridos pelo Proer.
Contribuíram também o fisiologismo da base parlamentar e, principalmente, o massacre de trabalhadores rurais no Pará, desta vez filmado e exposto internacionalmente. Os apupos da oposição estarão onde estiver o presidente.
De outro lado, o sentimento de frustração e descontentamento vêm do quadro de esgotamento da política econômica. A própria Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e CNI (Confederação Nacional da Indústria), quem diria, falam em greve geral por crescimento, reformas e emprego. Não há emprego com esta política econômica.
A estabilização está presa em uma armadilha de câmbio sobrevalorizado e juros elevadíssimos incompatíveis com o crescimento, como tentamos alertar desde o início do plano.
As importações passaram de um patamar de US$ 25 bilhões para US$ 50 bilhões, deteriorando acelerada e estruturalmente o saldo comercial do país.
A estagnação econômica é uma exigência da fragilidade do balanço de pagamentos. Somos um país com uma conta de serviços deficitária em cerca de US$ 20 bilhões neste ano. Portanto, o país não poderá crescer mais de 3% do PIB (Produto Interno Bruto) nos próximos dois anos, mantida a atual política econômica, sob o risco de se expor a uma grave crise cambial.
É por isso que tivemos a maior taxa de juros de toda a história do país e da economia internacional em 1995, 33% reais em dólar!
Os juros atraem reservas cambiais para fechar o balanço de pagamentos. E, evidentemente, contribuem para o processo de desindustrialização e grave crise agrícola, profunda inadimplência e crise bancária, além do impacto devastador sobre as finanças públicas.
Parte dessa conta já aparece no déficit público de 5% do PIB, cerca de R$ 40 bilhões, na dívida pública federal que atingiu R$ 127 bilhões (dado de março/96) e nas dívidas públicas estaduais que montam a R$ 100 bilhões.
O ajuste fiscal está cada vez mais distante, com um custo econômico e social pesadíssimo.
Não é fácil sair agora da armadilha, gerada pelo erro do câmbio sobrevalorizado. O grande capital privado está endividado em dólares e também preso ao destino da taxa de câmbio.
O Brasil descobriu que o governo não tem um projeto de desenvolvimento e o presidente deve se contentar com os aplausos que vêm de fora. Aplausos de quem está vendendo mais US$ 25 bilhões por ano ao Brasil e ganhando pelo menos 20% de juros sobre os US$ 55 bilhões de reservas cambiais. Quanto custam os aplausos, presidente?

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