São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996 |
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O anjo esquerdo da história
HAROLDO DE CAMPOS
estão assentados na pleniposse da terra: com-terra: ei-los enterrados desterrados de seu sopro aterrados terrorizados terra que à terra torna pleniposseiros terra- tenentes de uma vala (bala) comum: pelo avesso afinal entranhados no lato ventre do latifúndio que de im- produtivo re- velou-se assim u- bérrimo: gerando pingue messe de sangue vermelhoso lavradores sem lavra ei- los: afinal con- vertidos em larvas em mortuá- rios despojos: ataúdes lavrados na escassa madeira (matéria) atocaiou-os mortiassentados sitibundos decúbito-abatidos pre- destinatários de uma agra (magra) re(dis)(forme) forma -fome- a- grária: ei- los gregária comunidade de meeiros enver- gonhada a- goniada avexada -envergoncorroída de imo-abrasivo re- morso- a pátria (como ufanar-se da?) apátrida pranteia os seus des- possuídos párias- pátria parricida: que talvez só afinal a espada flamejante tória cha- mejando a contravento e afogueando os agrossicários sócios desse fúnebre sodalício onde a morte-marechala comanda uma torva milícia de janízaros-ja- gunços: somente o anjo esquerdo contrapelo com sua multigirante espada po- derá (quem dera!) um dia convocar do ror nebuloso dos dias vin- douros o dia afinal sobreveniente do justo ajuste de contas Texto Anterior: Um poema é um poema é um poema? Próximo Texto: A pura energia de um amor de perdição Índice |
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