São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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A dupla via da racionalidade

Wisnik e Bornheim debatem a historicidade da razão

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Razão, com maiúscula, é apenas uma ilusão humana sobre um fenômeno que é essencialmente histórico ou existe, pelo contrário, uma gramática da racionalidade que é irredutível ao tempo e permanece idêntica ao longo dos séculos? A razão é um fenômeno ocidental ou a nossa cultura é fruto de apenas uma manifestação muito específica da racionalidade?
Essas duas questões e suas muitas derivações ocuparam -e em vários momentos dividiram- o filósofo Gerd Bornheim e o músico José Miguel Wisnik, convidados da série "Diálogos Impertinentes", que no último dia 26 de março elegeu como tema de discussão essa velha senhora -"A Razão".
O evento, promovido em parceria pela Folha, PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e Sesc (Serviço Social do Comércio), teve como mediadores o jornalista Hélio Schwartzman, editor de Opinião da Folha, e Mário Sérgio Cortella, professor do departamento de teologia da PUC-SP.
Oscilando na maior parte do tempo entre exemplos colhidos na música e na filosofia, o tema foi abordado de diferentes perspectivas pelos dois convidados. Bornheim, que leciona filosofia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, cobrou do interlocutor uma visão "mais histórica" da razão e tomou a cultura ocidental como berço da racionalidade.
Wisnik, professor de literatura brasileira na USP, mesmo recusando a todo momento o papel de defensor de uma visão a-histórica da razão, na qual Bornheim quis lhe confinar, acabou acusando o filósofo de ser refém de uma visão muito "ocidentalizada" do tema.
Citando o disco "Parabolicamará", de Gilberto Gil, já no fim do debate, Wisnik quis exemplificar como a razão ocidental se viu obrigada a acolher, devido a seu próprio esforço de planetarização e caráter expansionista, formas de racionalidade não-ocidentais, oriundas da África e do Oriente.
"A experiência ocidental se tornou universal, colonizou o mundo, mas trouxe no seu refluxo uma espécie de experiência do Oriente. Isso está em John Cage, mas está também na música 'Buda Nagô', do Gil, quando diz que Dorival Caymmi, sábio baiano, é africano por um lado, mas Buda por outro, isto é, o Oriente e o Ocidente passando pela África, se integrando numa nova experiência", disse Wisnik.
Avesso ao exemplo, Bornheim acusou Wisnik de "gostar muito" da perenidade e de estar fascinado com "a simultaneidade" das culturas. "Todo esse negócio do Oriente com o Ocidente não passa de uma porta aberta pelo último", resumiu o filósofo.
O feminino
Os "Diálogos Impertinentes" prosseguem na próxima terça, dia 30, quando o professor de filosofia política da USP, Renato Janine Ribeiro, e a psicanalista e deputada federal pelo PT, Marta Suplicy, debatem "O Feminino".
O evento será realizado às 20h40, no Teatro de Arena do Tuca (r. Monte Alegre, 1.024, Perdizes), com transmissão ao vivo da TV PUC, pelo canal 20 das operadoras de cabo Net e Multicanal, que em São Paulo transmite pelo canal 18. Para obter convites, informações pelo tel. 011/224-3473.
(FBS)

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