São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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Funções desconhecidas do núcleo das células

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em fins da década de 80 James Davie, da Universidade de Manitoba, Winnipeg (Canadá), descobriu com outros pesquisadores que o núcleo celular não possui apenas proteínas e cromatina -mistura de proteína e DNA, a matéria prima dos genes, que forma os cromossomos.
No núcleo da célula também existiriam outras substâncias, em particular ácido ribonucléico (RNA) e várias moléculas insolúveis. A essa mistura deram o nome de matriz e aos poucos lhe foram atribuindo importantes funções, inclusive no processo pelo qual o gene transcreve em DNA seu código para a proteína que o gene fabrica.
A noção de matriz foi a princípio muito combatida, mas aos poucos foi sendo aceita por muitos. Em abril de 1995 foi tema de um primeiro simpósio internacional sobre a matriz nuclear, que se realizou nos Estados Unidos com a participação de 150 cientistas. Yvonne Baskin relatou na revista "Science" (268, 1664) os principais tópicos do encontro.
Gene e proteína
Há muito se sabe que o DNA contém sob forma de código a mensagem que encerra as instruções para a fabricação da proteína que codifica.
A proteína é copiada em RNA, que encerra segmentos que codificam a proteína (éxons) e outros que não codificam (íntrons) e por isso devem ser amputados antes que seja copiado o modelo com a mensagem que expressa a proteína. Por processo enzimáticos esse processo de fato ocorre, segundo Davie, possibilitando a cópia da mensagem e preparando a formação da proteína cujo código se encontra no gene.
Para fabricação da proteína, o RNA-mensageiro deixa o núcleo e passa para organelas do citoplasma -os ribossomos- onde ocorre a produção da proteína. Mas nem todo o RNA deixa o núcleo durante esse processo. Uma boa parte dele, intraduzível em proteína, permanece no núcleo, retido parcialmente na matriz.
Cromossomos
Equipe chefiada por Jeanne Lawrence, do Centro Médico da Universidade de Massachusetts, em Worcester, apresentou prova de que esse RNA matricial é implicado na inativação de um dos cromossomos sexuais X da célula feminina dos mamíferos. Isso acontece por influência direta do RNA do gene do cromossomo X inativado.
A atividade amputadora da matriz sobre os íntrons despertou muito interesse e logo apareceu a descrição de várias proteínas da matriz dotadas dessa capacidade. Há quem suponha que durante a amputação dos íntrons suas proteínas mantenham intocados os éxons, de maneira que eles conservem a ordem programada para sua presença na proteína.
Há uns 20 anos, Sheldon Penman descreveu no Massachusetts Institute of Technology imagens filamentosas obtidas pelo exame da matriz mediante o microscópio eletrônico. Agora, com alguns colegas, defende a idéia de que esses elementos, constituídos de proteínas matriciais, constituam espécie de arcabouço que serviria de infra-estrutura capaz de manter várias moléculas em seus devidos lugares. Talvez mesmo propiciasse a estrutura básica que organiza a síntese e expressão do RNA-mensageiro, e até mesmo a replicação do DNA. Mas essas hipóteses ainda são muito discutidas.

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