São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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Desinformação ameaça florestas da Amazônia

DA REPORTAGEM LOCAL

"A classificação da maioria dos grupos de plantas e de animais da Amazônia não ultrapassa o estágio desse tipo de conhecimento nos EUA e Europa do século 19", dizem Michael Goulding, Nigel Smith e Dennis Mahar, três especialistas em ecologia.
Os três pesquisadores americanos acabam de publicar nos Estados Unidos um amplo estudo sobre a ecologia, economia e cultura das áreas banhadas pelo rio Amazonas -"Floods of Fortune -Ecology and Economy along the Amazon" (Columbia University Press, Nova York, 196 páginas).
Os pesquisadores afirmam que é impossível estimar a destruição da biodiversidade sem que se saiba quais os tipos de floresta tropical foram afetados. Até agora não há dados e análises sobre isso, dizem.
"O conhecimento técnico da geologia e geografia da bacia Amazônica, e da distribuição de plantas e animais, é ainda muito pobre para identificar todos os ecossistemas da região", escrevem.
Segundo os autores, cerca de 8% da floresta Amazônica teria sido devastada ou seriamente danificada. A maior parte do prejuízo teria ocorrido nos anos 80 -teriam sido derrubados 20 mil quilômetros quadrados de mata por ano. Na década de 90, a taxa de destruição teria caído pela metade.
No ritmo atual de desflorestamento, o trio estima que Amazônia estaria inteiramente destruída em dois ou três séculos.
Os pesquisadores
Os três autores do livro já trabalharam no Brasil.
Goulding é pesquisador de uma organização não-governamental, a Rainforest Alliance. Já trabalhou no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e no Museu Paraense Emílio Goeldi.
Nigel Smith ensina geografia na Universidade da Flórida e também já passou pelo Inpa e pelo Banco Mundial. Dennis Mahar é o representante do banco no Brasil e já publicou dois livros sobre política ambiental amazônica.
Goulding, Smith e Mahar dizem que a ameaça à biodiversidade representada pela intrusão humana no ecossistema das florestas tropicais da região -pois eles dizem que existem várias- é muito maior do que a causada pela mera derrubada da floresta Amazônica. É o caso da pecuária.
Ao contrário das terras mais altas da floresta, as margens do Amazonas têm solos ricos, que poderiam ser utilizados para a agricultura. Os pesquisadores no entanto lamentam que as culturas que mais se desenvolvam na região sejam a gado bovino e búfalos.
Os ambientalistas avaliam que a criação de gado é uma grande ameaça ao maior recurso econômico da região: peixes. O desflorestamento para criação de pastagens acaba com as fontes de alimento e com os pequenos rios para onde migram temporariamente os peixes.
Mas, no entender dos autores de "Floods of Fortune" ("Rios da Fortuna"), um dos principais problemas que enfrenta a bacia do Amazonas é mesmo a ignorância sobre ela.
Segundo o trio, a ignorância sobre o Amazonas é ainda maior do que a sobre as florestas que cercam o rio. O Amazonas seria menos conhecido do que muitos de seus afluentes e do que a floresta que ele corta. No entanto, a devastação que sofre o maior rio brasileiro seria igual ou maior que os rios vizinhos ou as terra amazônicas.

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