São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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Medo de tráfico afastou golpe, diz analista

EMANUEL NERI
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO

A democracia e a preocupação com o narcotráfico foram os fatores que mais pesaram na semana passada para evitar que o Paraguai mergulhasse num regime militar.
Essa é a opinião de diplomatas e cientistas políticos que acompanharam a ameaça de golpe do general rebelado Lino Oviedo.
O desfecho da crise foi surpreendente. O presidente Juan Carlos Wasmosy tentou acabar com a crise nomeando ministro da Defesa o general Oviedo, que havia se recusado a ser passado para a reserva.
Depois, sob pressões externas e internas, Wasmosy mudou de opinião e desconvidou Oviedo.
"O Paraguai deve aos países democráticos o fato de não ter mergulhado mais uma vez na ditadura", diz o sociólogo paraguaio José Luis Simon.
O cientista político paraguaio Carlos Martini tem opinião semelhante. "Com democracia, há melhores condições de combate ao narcotráfico", diz.
Para ele, a crise militar do Paraguai fez com que surgisse uma espécie de "globalização política".
Referencial
Segundo Martini, a preocupação com as democracias surgiu no início do governo Jimmy Carter, em 1977, nos EUA. Depois, com Ronald Reagan, acrescentou-se o combate ao narcotráfico.
Ele acredita que as novas preocupações mudaram o conceito de soberania. "Em outras épocas essa pressão sobre o Paraguai seria vista como interferência externa."
Os diplomatas sediados em Assunção confirmam a tese. Segundo eles, a volta dos militares poderia intensificaria a lavagem de dinheiro do narcotráfico no país.
Brasil, EUA, e Argentina estão preocupados com isso. O general Andrés Rodriguez, ex-presidente paraguaio, é suspeito de manter relações com o narcotráfico. Cria de Rodriguez, Oviedo também consta da lista de suspeitos.
O regime militar do general Alfredo Stroessner (1954-89) também se envolveu com traficantes. O acusado era Gustavo Stroessner, filho do ditador.
O coronel Luis González Rojas, preso por denunciar o envolvimento de militares de seu país em roubos de carros no Brasil, diz que há "tolerância e acobertamento" militar com o narcotráfico.
Os países do Mercosul ameaçaram fechar suas fronteiras caso a tentativa de golpe de Oviedo tivesse êxito. Queriam matar a ditadura por asfixia econômica.
Os EUA também ameaçaram com retaliação. O país tinha tanta pressa para ver Oviedo longe do Exército que sua embaixada em Assunção chegou a anunciar antes do governo a demissão do general.

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